Alvin Toffler, no seu livro O choque do futuro, “trata do que acontece às pessoas quando se veem esmagadas pela rapidez, com que se verificam, nas mudanças e nas alterações sociais .” ( Toffler, 1971, p.1). E, entre tantas áreas trabalhadas no texto, será destacada a educação, por sua ligação ao assunto trabalhado neste Blog e para o qual ele separa todo um capítulo do seu livro.
Segundo Toffler, dentro de uma análise sociológica, as mudanças na escola surgem entre outros motivos, da ligação desta com à sociedade e o momento histórico no qual a mesma está inserida. Para o ser humano da Idade Média, envolvido em uma sociedade estagnada, por exemplo, o conhecimento era transmitido “não por especialistas concentrados em escolas, mas através da família, das instituições religiosas e dos aprendizados artesanais.” (Toffler, 1971,p.333).Deste modelo de sociedade surge então uma escola alicerçada no tradicionalismo e por isto mesmo contrária à mudanças.
A Idade Moderna e sua nascente industrialização faz surgir um modelo de escola que precisava estar associada ao novo tipo de trabalho e de Homem que esta sociedade via nascer. O molde de trabalho industrial que estava sendo construído, precisava de um novo ser-humano, adaptado às novas realidades sócio-econômicas geradas pela industrialização da sociedade e o melhor lugar para infundir tais mudanças foi a escola, reorganizada segundo os princípios da industrialização.
Devido a estas transformações ocorridas dentro da escola, é que Toffler aponta algumas características muito criticadas da educação atual, como por exemplo ;
- A regimentação;
- A rigidez no controle das pessoas;
- Valorização de notas;
- O papel autoritário do professor.
Assim sendo, as escolas acabavam e ainda acabam sutilmente instilando no aluno a concepção de sociedade industrial, na qual estamos inseridos.
A rápida passagem pelos modelos escolares das Idades Média e Moderna, serve para esboçar como o momento histórico e social influenciam a escola e por conseqüência tudo o que está ligada a ela. Atualmente, acontece o nascer de uma nova sociedade, a sociedade informacional, que segundo Castells é um termo que “tenta uma caracterização mais precisa das transformações atuais” (Castells, 2000,p.65), com relação aos movimentos sociais e ao Estado os quais estão baseados na estrutura básica de redes. E, a escola dentro deste contexto de transformações muito rápido, encontra-se em uma encruzilhada precisando saber qual o caminho a seguir.
Toffler, aponta algumas áreas no qual as mudanças devem ser trabalhadas na escola:
· Transformação da estrutura organizacional do sistema educacional;
· Revolucionar o currículo;
· E orientar-se mais para o futuro.
Como a preocupação deste tópico é trabalhar as mudanças do processo ensino aprendizagem, com a inserção do computador dentro desta mediação, será somente constatado a nível de informação, assim como Toffler entende que não há como permanecer neutro às mudanças e que as mesmas exigem uma tomada de posição dos educadores... ao falar de uma transformação da estrutura de organização do sistema educacional, sua posição é de uma escola mais voltada para o uso dos equipamentos tecnológicos no processo ensino-aprendizagem, “essa tendência será grandemente encorajada por melhorias registradas na educação suplementada pelos computadores, pela gravação na televisão, pela holografia e por outros caminhos técnicos.” (Toffler,1971,p.338)
Para contrastar esta posição de Toffler e mostrar a necessidade de ter uma postura quanto às mudanças no processo ensino-aprendizagem, será citado um trecho onde de maneira contrária, Setzer aponta o por quê aceita apenas parcialmente a mediação entre professor e aluno, por máquinas.
“Quanto ao uso de máquinas para ensinar diversas matérias, eu admitiria apenas um uso muito restrito. Por exemplo, como já foi provado que a TV induz um estado de sonolência, semi-hipnótico, no telespectador [Krugman 1971, Walker 1980, Weinstein 1980], minha recomendação é que ela seja usada apenas como ilustração (por exemplo, em aulas de geografia ou biologia) com vídeo, por períodos muito breves (3-4 minutos). O professor deve exibir a ilustração, discuti-la, exibi-la e discuti-la novamente, evitando assim que as imagens sejam gravadas exclusivamente no subconsciente, como acontece normalmente com TV e filmes não tendo então efeito educativo, mas condicionador.
Com relação ao uso dos computadores no processo ensino aprendizagem, Setzer afirma que existem algumas razões para se opor ao uso deles, na educação:
1º - O trabalho massivo da ´´Propaganda mercenária`` realizada pelos fabricantes de computadores;
2º - A preocupação em se usar uma aparência hiper-cosmetificada dos aparelhos;
3º - O fato dos professores não enxergarem e nem estarem preparados técnica e didaticamente para as alterações metodológicas;
4º - O tipo de aula excessivamente abstrata, que massacra psicologicamente os alunos;
5º - O falso pensamento de que o computador moderniza, atualiza a educação formal;
6º - A valorização e a ênfase de uma adultização precoce dos alunos.
Dentro das respectivas linhas teóricas, uma concordando com a inserção do computador no processo ensino-aprendizagem (Toffler) e a outra discordando desta inserção no ensino fundamental (Setzer), pode ser percebida uma concordância:
É necessário a alteração do modelo de ensino-aprendizagem, cada um à sua maneira, porém é nítida a consciência de que o modelo educacional está superado e os professores precisam ter preparo para enfrentar as mudanças que se fazem necessário no seu trabalho, junto aos alunos da sociedade atual.
Se é ponto pacífico que devem ocorrer alterações no processo ensino-aprendizagem por ambas linhas de pensamentos, por onde as instituições de ensino, tanto formal como informal, deveriam iniciar este trabalho de profundas mudanças, na formação e informação de nossas crianças para a sociedade midiatizada, que está sendo construída?
A preocupação deve começar desde a educação infantil. Nesta fase a criança deve ter uma educação que lhe possibilite ao menos, ter acesso:
- · A conteúdos que trabalhem a fantasia e a imaginação, ou seja, muitas Histórias, Poemas, Desenhos Livres, Cânticos, Música, Teatro;
- · A um ambiente que lhe permita aprender a reverência, o agradecimento, o respeito e o compartilhar;
- A um ambiente educativo que lhe permita conhecer e desenvolver atividades que contenham Ritmos diários, semanais, mensais e anuais;
- · A práticas educativas que inibam a competição, mas valorizem a cooperação;
- · A uma proposta pedagógica que valorize a socialização e o desenvolvimento da vontade;
- · A um espaço de tamanho suficiente, que lhe permita movimentar-se;
- · A muitos tipos de brincadeiras ao ar livre e brinquedos que contenham desafio;
- · A materiais que lhe possibilite preparar, modelar e construir algo concreto, com utilidade e finalidade.
No Ensino Fundamental, um ambiente educativo deve dar a criança por sua vez ao menos, acesso:
- · A uma liderança forte e ética que não aja com ignorância, mas que seja fonte de exemplo de hábitos saudáveis;
- · A um ambiente e prática educativa que valorize a música;
- · A uma proposta educativa que proponha um conteúdo mais concreto e prático;
- · A atividades artísticas como dança, pintura, teatro, fantoches, etc...) e artesanais tais como, tecelagem, tricô, esculturas em gesso, madeira, argila, metais e trabalhos de marcenaria;
- · A um aprendizado que valorize um desenvolvimento emocional saudável;
- · A uma vivência do estético e do belo;
- · A um processo ensino-aprendizagem que trabalhe uma educação física que valorize o corpo humano em seu todo;
- · A um estudo, no mínimo, de dois ou mesmo três idiomas;
- · A partir dos dez anos, a um conteúdo mais abstrato;
- · A partir dos onze anos, dar acesso à laboratórios de tecnologias que apresentem e ensinem o princípio básico do funcionamento de máquinas e equipamentos mecânicos e até aparelhos que trabalhem com circuitos elétricos com baterias, resistores, LEDs, magnetos e relés;
No Ensino Médio, a educação deve possibilitar ao adolescente acesso:
- · A um professor(a) que domine efetivamente o conteúdo da sua disciplina e que se comporte conforme ensina, principalmente em questões éticas e morais;
- · A um processo ensino-aprendizagem que valorize a ida e o uso de laboratórios, palestras, feiras científicas e artísticas, bibliotecas, museus, teatros, viagens e salas de concerto musical;
- · A um conteúdo abstrato;
- · A um contato maior com as pessoas fora do contexto escolar, através de atividades artísticas, cooperativas, socializantes, educativas, principalmente voltadas a pessoas mais carentes da sociedade;
- · A um Laboratório de Microcomputadores onde deve ter uma disciplina técnica que lhe permitirá uma introdução: -A linguagens de programação (tais como Basic, Pascal, Java), com a finalidade de entender programas, introduzir editores de texto, planilhas, traçadores de gráficos e figuras, gerenciadores de bancos de dados. -Como entender e trabalhar com Correio eletrônico (e-mail), transferência remota de arquivos, PowerPoint e internet. -Conteúdo sobre o impacto psicológico e social dos computadores. -Ensino sobre a noção de algorítmos e sua complexidade, mediante exemplos de ordenação.
Alguns pontos devem ser destacados a partir daquilo que foi exposto acima.
Nos primeiros seis - sete anos a criança preferivelmente não deve ser massacrada com um ensino abstrato ( se possível, nem mesmo ser alfabetizada), ter acesso a um conteúdo mais voltado para a vontade; evitar a possibiliidade de contato com aparelhos de tela e disponibilizar ao máximo brincadeiras e brinquedos e espaços para movimentar-se.
Após os seis primeiros anos até o início da puberdade, a criança deve sair, lentamente, das práticas pedagógicas concretas para mais abstratas, sendo envolvido com um conteúdo voltado para a emoção e aos poucos sendo levado para a realização de práticas artesanais, um conhecimento mais prático sobre o funcionamento e a construção de máquinas, ferramentas mecânicas e elétricas e o despertar para a socialização do aprender.
A preocupação com a Educação Básica, tanto no ensino fundamental quanto no médio deve ser a mais importante para que o País construa uma base teórica e prática de suporte acadêmico verdadeiramente humanista, que leve jovens realmente conscientes, criativos e preocupados com questões sociais para os centros superiores de pesquisas de nossas Universidades, que projetarão e construirão as tecnologias necessárias para a sociedade do amanhã.
E por fim, é importante frisar que se deve promover a ligação do estudante, aos poucos, com o computador e esta precisa ser uma ligação onde o aluno já tenha tido a possibilidade de uma ampla formação artística-criativa, que desenvolva uma plena consciência e uma formação e informação intelectual e social que lhe permita entender sobre as influências deste meio, sobre as pessoas e entenda como é a sua estruturação e o seu funcionamento. Com certeza, se houver uma preocupação sincera com a educação das crianças concernente a sua preparação tecnológica hoje para o futuro, é certo que as possibilidades de um verdadeiro e amplo desenvolvimento sócio-econômico chegará não somente às classes hegemônicas, mas também as pessoas menos favorecidas da sociedade brasileira... Isto possibilitará as Lideranças Políticas a Nível: Federal; Estadual e Municipal de forma mais equânime conduzir ao país, de uma situação de pagador de direitos intelectuais e fornecedor de cérebros para os países desenvolvidos, para uma posição de país soberano e desenvolvedor de tecnologias nas mais diferentes áreas!
Abraço
Elias
Referências Bibliográficas
- Setzer,Valdemar W. A obsolescência do ensino [online]Disponível na internet via WWW: http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/ obsolesc.html. Arquivo capturado em 29 de Janeiro de 2011 - 14:01pm
- Setzer,Valdemar W. Meios eletrônicos e a educação:uma visão alternativa.Ed.Escrituras.São Paulo.2001
- Toffler,Alvin. O Choque do futuro. Ed. Artenova.Rio de Janeiro. 1971
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