domingo, 16 de janeiro de 2011

A Internet e a formação de novas comunidades, segundo interesses em comum


Quando  nos últimos cinco anos do século XX,  a Internet iniciou o seu processo de expansão em todo o planeta, poucos leigos podiam levantar hipóteses sobre as tendências  de como em tão pouco tempo  começariam a se  alterar os vínculos sociais da sociedade humana.

Durante séculos, o surgimento e desenvolvimento de comunidades praticamente permaneceu cristalizado e mesmo a definição do que é comunidade, apesar de uma perspectiva diferente aqui e outra ali, eram no fim muito parecidas.

É importante  definir o que é comunidade, no  sentido clássico, para que possamos entender como  hoje ela pode ser definida.   Comunidade  tem origem etimológica no latim communis, o qual significava ´´aquilo que pertence a muitos, ou senão, algo que é comum a muitos``. Na Sociologia, a palavra comunidade tem um desenvolvimento histórico, como bem constatou Ferdinand Tonnies .
´´A comunidade - assente ora no território comum (casa, aldeia, região, nação), ora na partilha da mesma língua, crença, etnia, corporação eclesiástica ou profissional - representa uma entidade social de identidade e interconhecimento, onde os actores sociais são vistos no seu todo, onde se fundem as vontades e se entrelaçam as relações sociais primárias face a face, relações estas perpassadas de laços personalizados de intimidade e emoção, bem como de regras adstritas de coerção e controlo sociais. Já, porém, a sociedade, composta por associações de diversa índole, na sequência dos conceitos jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, constitui um agregado social de base racional e voluntária, cuja adesão pressuporia um acto voluntário e livre dos indivíduos e cujas relações se definiriam como fragmentárias e segmentárias, impessoais e secundárias.`` (http://www.infopedia.pt/$comunidade-(sociologia)

Max Weber,  para ampliar a definição do conceito sociedade coloca que  a mesma, é formada por elementos de solidariedade e de afetividade. Assim, de forma muito resumida, a  formação da comunidade, ou melhor, das comunidades a partir da  sociedade moderna tinham como base os seguintes aspectos:
·         O uso da Razão para aceitação dos propósitos da comunidade;
·         A entrada por decisão livre e individual;
·         A privatização das pessoas;
·         A emocionalização dos apelos e a aceitação por vias emocionais.

Pode-se dizer que na Idade Moderna passaram a se difundir cada vez mais, dois tipos de  comunidades, aquela do tipo racional e aquela do tipo mais ´´emocionalista``. Faça um exercício mental e procure descobrir quais são as comunidades mais ´´racionais`` e  aquelas mais ´´emocionalistas``.

Hoje, quando adentramos a segunda década do século XXI,  as novas comunidades da sociedade pós-moderna,chamadas virtuais estão sendo alvos de estudos sociológicos a fim de que tenhamos  uma compreensão menos preconceituosa e de senso comum sobre como tais comunidades funcionam e influenciam uma nova forma de sociabilidade.

Em seu livro ´´A sociedade em Rede``, Manuel Castells traz informações importantes sobre como através de estudos aprofundados, estudiosos começaram a entender científicamente como tais comunidades virtuais funcionam e influenciam as pessoas. Citando pesquisas de Barry Wellman, ele nos ajuda a compreender que as ´´comunidades virtuais`` não se opõem necessariamente as ´´comunidades físicas``, na verdade elas são formas diferentes de comunidade, com leis e dinâmicas específicas.

Quanto a aspectos similares entre os dois tipos de comunidade, Castells citando Wellman e Gulia diz que ´´assim como nas redes físicas pessoais, a maioria dos vínculos das comunidades virtuais são especializados e diversificados (...) com o passar do tempo, muitas redes que começam como instrumentais e especializadas acabam por oferecendo apoio pessoal, tanto material  quanto afetivo``(Castells,p.444,2005).

Contudo, a Rede através das comunidades virtuais é especialmente apropriada para a geração de laços, chamados  fracos. Laços fracos, são laços  onde a sociabilidade é mantida através do fornecimento de informações e na abertura de novas oportunidades, apoio a baixo custo e a sensação de aconchego.  Segundo Castells, a ´´Internet favorece a expansão e a intensidade dessas centenas de laços fracos que geram uma camada de interação social para as pesssoas que vivem num mundo tecnologicamente desenvolvido``(Castells, p.445,2005).

Estou me segurando para não emitir um juízo de valor sobre estas considerações acima, como por exemplo, se os laços fracos são bons ou não... Como este não é um texto acadêmico,  também não quero emitir uma opinião de cunho preconceituoso, digo entretanto, que a probabilidade é que a  qualidade das novas formas de interações sociais tendem a ser superficiais  e temporárias.Castells fecha esta seção de seu texto, com uma pergunta:As comunidades virtuais são comunidades reais?  Ele então diz, sim e não.
´´São comunidades, porém não são comunidades físicas, e não seguem modelos de comunicação e interação de comunidades físicas. Porém não são irreais, funcionam em outro plano da realidade. São redes sociais interpessoais, em sua maioria baseadas em laços fracos, diversificadíssimas e especializadíssimas, também capazes de gerar reciprocidade e apoio por intermédio da dinâmica da interação sustentada``(Casttels, p.445-446,2005)

Algo interessante  e creio que importante em mencionar é o fato de que as pesquisas feitas por Wellman, informam que o novo modelo de sociabilidade a partir das comunidades virtuais, reforçam a tendência daquilo que ele denominou ´´privatização da sociabilidade`` e o qual ele explicou ser ´´a reconstrução das redes sociais ao redor do indivíduo, o desenvolvimento de comunidades pessoais, tanto física como on-line.``(Castells, p.446,2005)

Ou seja, a velha e forte tendência do ser humano em seguir alguém, com quem ele se identifica ou mesmo pelo discurso de caráter altamente emocionalizante, pode potencializar o surgimento de seguidores  segundo interesses em comum mas inconscientes a respeito das verdadeiras intenções daquele a quem estão seguindo. Somente a nível de exemplo, gostaria de citar Adolf Hitler, que sem os recursos e ferramentas da Internet conseguiu atrair e convencer uma multidão de seguidores, através dos recursos de comunicação de seus dias,  que acreditaram nas suas ´´boas`` intenções para com a sua nação. Este exemplo, com certeza foi exagerado, porém tenho uma hipótese de que o Filho do Diabo, o Anticristo irá atrair millhões de seguidores através das redes sociais, as novas comunidades dos nossos dias.

Com isto não quero dizer, que os cristãos não devam usar as novas comunidades virtuais, longe disto. O que eu pretendo, é seguir dentro do propósito crítico deste blog e trazer a oportunidade para que as pessoas  possam de maneira consciente refletir sobre o uso destas comunidades virtuais e como elas podem nos influenciar inconscientemente na nossa escolha e inserção nas chamadas comunidades físicas ou tradicionais. Porém, a principal finalidade é ajudar o maior número de pessoas, a usar tais comunidades para a edificação do Corpo de Cristo e a expansão do Evangelho até os confins da Terra.

Abraço
Elias

Bibliografia:
CASTELLS, Manuel.  A era da informação: Economia, Sociedade e Cultura - A sociedade em Rede . São Paulo. Paz e Terra,2005.



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