Creio ser importante trazer algumas maneiras diferentes de pesquisar e assim entender de maneira mais ampla uma determinada realidade que nos cerca, neste caso, os chamados meios de comunicação.
Na primeira metade do século XX, quando os estudos sobre tais meios começavam engatinhar na Academia, os teóricos partiam do seguinte esquema:
Mensageiro = transmissor da mensagem
Mensagem = conteúdo teleológico
Meios = instrumentos de transporte da mensagem
Receptores ou Público = sujeitos que colocariam em prática o propósito da mensagem
Este tipo de abordagem ou leitura acabou por dar aos meios de comunicação uma postura de ´´todos poderosos`` o qual, segundo Joana Puntel, acabava por transmitir a idéia de que somente os meios eram as únicas formas responsáveis pelas quais os públicos pensavam e agiam. Sendo assim, como robôs respondendo aos impulsos eletrônicos de seus controladores.
Embora atualmente este tipo de análise continue sendo usada, há algum tempo, novos métodos de pesquisa foram surgindo, procurando ampliar, sofisticar a análise dos meios de comunicação. Se antes a ênfase era dada aos meios através das chamadas ´´Teorias de mediação`` a partir do final da década de 50 e início dos anos 60, do século XX, foi desenvolvida a ´´ teoria de recepção`` ou o chamado estudo da ´´interpretação do público``.
O importante, neste momento, é frisar que com a diminuição da influência das teorias de mediação e o aumento da teoria de recepção, o foco de atenção foi transferido de uma ´´mídia todo-poderosa´´ para a de um ´´público ativo``. Talvez existam interesses econômicos nesta mudança de ênfase, mesmo que alguns teimem em afirmar que a Ciência é ´´neutra``, totalmente despida de interesses econômicos e influências, infelizmente já está provado que a Ciência hodierna, é sim movida pelo dinheiro e por motivações ideológicas. E, por mais triste que pareça ser, o contrário disso, é algo que talvez só exista em algum livro de ficção-científica, ou em um laboratório ou centro de pesquisa universitário que sobrevivam por misericórdia de algum mecena idealista, seguido de um grupo de cientistas cheios de ideais.
Assim sendo, a base pela qual a teoria da recepção está construída, é aquela que diz que os públicos são sujeitos ativos na construção dos significados dos conteúdos culturais, transmitidos pela mídia. Isto traz uma compreensão de que as pessoas teem um papel mais consciente tanto no que diz respeito ao funcionamento quanto a influência dos meios.
Apesar de ter como base a premissa exposta acima, a teoria da recepção tem ao menos quatro tipos de abordagens diferentes entre si, com suas origens em distintas tradições disciplinares ou contextos sociopolíticos e culturais, são elas:
1. A abordagem dos estudos culturais críticos da tradição anglo-americana
Esta abordagem trabalha a questão de como as classes contra-hegemônicas podem contestar, subverter, transformar e liberar-se de alguma forma da leitura hegemônica codificada nas mensagens dos meios de comunicação.
Para demonstrar esta possibilidade, nesta abordagem é ensinada que as mensagens não são necessariamente idênticas para públicos diferentes, ou seja, não existe meramente um modelo de influência comportamentalista de estímulo-resposta, existem também as influências genéticas, sociológicas, políticas, históricas que permitem aos ouvintes a construção de uma opinião individual, sendo os mesmos chamados para até adentrarem à ´´redação do roteiro`` da mensagem, ampliando e tendo a possibilidade de modificar o conteúdo chegado até eles.
Com isto, esta abordagem coloca que pela diferença existente, a nível micro e macro, do sistema social, não é possível que pessoas pertencentes a famílias diferentes uma das outras, que estudam em escolas variadas, frequentem igrejas de diversas confissões, sigam ideologias políticas de diferentes viés, entre outras possibilidades possam entender de uma única forma uma mensagem, mesmo que esta seja de uma única carga teleológica do mensageiro.
2. A abordagem simbólica-interacionista
Enquanto a primeira abordagem trabalha, principalmente, com questões de classes sociais e como elas tem uma interpretação diferente uma das outras, esta segunda, estuda como as novas tecnologias da informação incorporam-se ao ritmo da vida no lar.
Desta forma a pesquisa rejeita que as tecnologias tenham influência determinante na construção da cultura contemporânea. Assim sendo Puntel, coloca que em vez da esfera pública composta, principalmente pelos construtores e dominadores dos meios de comunicação, terem um papel predominante na influência e direção das pessoas, o que acontece é que são os diferentes tipos de família que redefinem, segundo seus valores e interesses, o significado impostos aos meios e o conteúdo transmitidos pelos mesmos. Enfim o que vai definir como as famílias negociam e transformam o significado e conteúdo dos meios será a forma como cada uma delas constrói a sua própria ´´cultura familiar``.
3. A tradição dos estudos culturais consensuais
Os estudos culturais consensuais procuram enxergar os meios de comunicação como um fórum, um espaço público no qual os significado culturais, que têm uma longa história em uma determinada cultura, são reexaminados e debatidos por diferentes setores culturais.
A colocação de Puntel para exemplificar de maneira mais prática a aplicabilidade dos estudos culturais consensuais é algo que deve ser colocado de forma completa, pois trabalha com uma questão bem próxima a nós, evangélicos, citando o trabalho desenvolvido por Stewart Hoover, ela diz que o mesmo,
´´introduziu uma metodologia valiosa para a estudada interpretação do público analisando a construção que este faz do significado da mídia no contexto das histórias da vida. Em seu estudo das histórias da vida, que ele analisa, como parte de um processo cultural muito mais amplo como parte de um processo cultural muito mais amplo de um determinado movimento de revitalização religiosa(...), Hoover mostrou que o atrativo de ´´uma igreja eletrônica`` menos institucionalizada, como a de Pat Robertson, faz parte de uma grande mudança cultural dos Estados Unidos e do mundo.(Puntel, p.64,2005)
Segundo Hoover, o importante a ser destacado é que Pat Robertson não deve ser analisado somente como um transmissor de informações, que tem como objetivo mudar o comportamento das pessoas ou convertê-las, mas como um símbolo do tipo profeta de uma nova síntese cultural, cujo modelo deve e pode ser imitado pelas pessoas. No caso de Robertson, é feita a leitura de que é possível a uma pessoa ser tanto um fundamentalista religioso, político e cultural , quanto fazer parte da corrente hegemônica da sociedade.
Algo interessante que pode ser destacado nesta abordagem, é que ela nos possibilita fazer uma leitura mais acurada dos televangelistas da mídia brasileira. Mesmo eles querendo ou não, são exemplos de comportamento, de orientação política, econômica, ideológica, cultural e não somente transmissores do Evangelho. Desta maneira, podemos fazer a leitura de que os meios, são canais que conduzem às pessoas para uma nova construção cultural.
4. A construção de significado por parte do público, enquanto resultado de ´´mediações`` entre a lógica da produção e do consumo
Nesta última abordagem, ao invés de existir uma preocupação com o poder somente da indústria da comunicação e como ela sozinha exerce influência sobre os receptores, há um interesse em iniciar uma análise sobre como a audiência constrói o significado dos conteúdos a partir, não de um único sujeito influenciador, mas de muitos sujeitos diferentes que representam a lógica das indústrias da comunicação, cultura, lógica da vida cotidiana, dos movimentos sociais e outros..
Para entender melhor o significado de mediações, é importante frisar que nesta abordagem, sistematizada principalmente pelo teórico Jesus Martín-Barbero, é diferente de mídias. Mediação, segundo Barbero, é entendida como a articulação entre as práticas da comunicação e os movimentos sociais, e a articulação de diferentes ritmos de desenvolvimento com a pluralidade de matrizes culturais, ou seja, a mediação não está somente ligada aos meios de comunicação (televisão, computador, celular, rádio, etc...) mas está ligada aos mais variados grupos sociais, tribos, visões e a junção de tudo isto e muito mais, como agentes influenciadores sobre as pessoas. Isto nos deixa transparecer que a influência das classes hegemônicas, que controlam a indústria da comunicação, somente alcança resultados, porque possui nas demais classes sociais, seguidores que possibilitam e facilitam a inserção dos conteúdos teleológicos aos pertencentes das classes contra-hegemônicas.
Conclusão
Cada uma destas abordagens, possibilitou aos estudiosos enxergar que não são somente os meios que influenciam as pessoas, antes, existe uma ligação entre os meios, a sociedade e as pessoas, que como sujeitos ativos vão na direção para a qual os comunicadores desejam levá-las. Assim, tais abordagens são muito importantes para expandirmos a nossa compreensão da influência dos meios de comunicação, pelo viés sociológico, sobre as pessoas. Contudo, é fundamental que não negligenciemos as teorias de caráter fenomenológicos, onde através de pesquisas comportamentalistas e neurológicas também adquirimos condições para uma leitura mais ampla a respeito das influências dos meios de comunicação.
Abraço
Elias
Referência bibliográfica
Puntel, Joana T. Cultura midiática e igreja – uma nova ambiência, São Paulo, Paulinas, 2005.
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