sábado, 29 de janeiro de 2011

SIM, AS PALAVRAS TÊM PODER! (PARTE II)

O Mundo Pós-Moderno e as Línguas


Continuando com o assunto sobre o poder das palavras e a comunicação, algo que temos que ter em vista, e que todo mundo sabe, mesmo que nunca tenha parado para pensar nisso, é que toda língua se modifica. Isto é óbvio. Nós, por exemplo, não falamos da mesma maneira que os brasileiros de 1800, que não falavam como os portugueses de 1500, etc. Este é possivelmente o principal foco deste artigo, a saber, como as mudanças das línguas têm sido maximizadas e aceleradas devido ao uso das novas tecnologias e pelo relativismo do homem pós-moderno.
            Vamos por partes, primeiramente é necessário entender que as línguas se comportam de determinadas maneiras que podem ser estudadas. Quanto à mudança elas podem ser de duas maneiras principais, que por sua vez englobam outras:

1. A primeira maneira pela qual as línguas se modificam é através do tempo. Como já foi mencionado acima, nós não falamos como os brasileiros de 1900, 1800, 1700 etc., isto porque a língua portuguesa, como qualquer outra língua, mudou e está mudando. Para este tipo de mudança, os lingüistas têm um nome, chama-se mudança diacrônica, mudança no tempo. Vejamos o exemplo da palavra POVO, partindo do latim POPULU até chegar aos nossos dias.

POPULU – Populo – Popolo – Pobolo – Poboo – Pobo - POVO

2. Outra maneira pela qual a língua pode ser modificada é pelas relações e interferências com outras línguas, isolamento ou distanciamento geográfico, dentre outros. Por exemplo: em algumas regiões do Brasil se diz acará, em outras cará (uma espécie de peixe); para um tipo pequeno de macaco comum no nosso país, temos de acordo com as regiões: sagüi, sagüim, sauí, sauim, soim, sonhim ou xauim, dentre inúmeros outros exemplos, todas essas formas convivem dentro do território brasileiro, os lingüistas chamam este tipo de mudança de mudança sincrônica. Às vezes uma destas “versões” por motivos diversos, político, por exemplo, é escolhida para ser a “correta”, passando as outras a serem tratadas como erradas e forçando seus falantes a mudar a sua forma de falar, ou serem considerados falantes de segunda classe.

Mas a mudança mais preocupante não é propriamente a sincrônica nem a diacrônica, mas sim a mudança semântica (mudança de significado). Por quê? Porque as mudanças sincrônica e diacrônica acontecem naturalmente, é um processo natural de mudança, ninguém (nestas mudanças) para e diz: Vou nomear o macaquinho de sauí, só para a minha região falar diferente! ou Não gosto da palavra populu vou mudar para povo, para que as gerações futuras digam assim! Não, isso não existe, mas na mudança semântica isso acontece, e tem acontecido de maneira cada vez mais rápida e generalizada, isso porque a consciência do homem moderno lhes dá esse “poder”.
Dentre as características do homem que vive a/na pós-modernidade está o fato dele ser completamente relativista. Para ele não existe verdade absoluta, ele tem o direito de crer no que bem entender e até mesmo criar a sua crença, mesmo que ele esteja dentro de um ambiente que não permita isso, ou creia em outra coisa, e o posicionamento dos seus contrários, ele chamará de preconceito etc. Para ele, portanto, nada é estanque, ele pode e quer mudar tudo, pode e dará os significados que ele quiser a qualquer coisa, até mesmo às palavras já existentes. Isso se aprimora e se expande mais quando as novas tecnologias surgem e com elas as novas redes sociais. Com elas novos termos foram criados, mas muitos termos que já existiam foram e estão sendo modificados. O problema é que esses termos modificados não são apenas os termos técnicos, mas também os termos carregados de simbolismos, sentimentos, emoções, significados religiosos, culturais, sociais. Dando somente um exemplo: a palavra amigo. Uma palavra sempre usada para definir alguém por quem você tem um profundo afeto, amor, carinho. Agora uma palavra usada para também designar um desconhecido, “conhecido” apenas do mundo virtual.
Muitos, com isso, podem pensar que estou sendo radical, que é fácil fazer a distinção entre o sentimento por um amigo real e a simples aplicação da mesma palavra ao contexto virtual. Pois bem, se você tem 30 anos para mais, você faz parte da geração que quando os computadores/internet se popularizaram, principalmente na última década, já tinha todo o seu arcabouço lingüístico formado e somente adicionou novos significados, você vai conseguir (espera-se que sim) fazer a relação entre virtual e real. Mas se você está na faixa etária dos 20 anos isso quer dizer que o seu contato com os computadores/internet foi desde muito cedo (talvez não para todos, mas será cada vez mais intenso e precoce para as gerações vindouras) e o seu aprendizado do termo amigo e outros usados nas redes sociais, está sendo moldado pelas novas tecnologias. Talvez você pense que novamente estou sendo radical, que o termo amigo clássico (real) não será suplantado pelo termo amigo (virtual), que as duas formas existirão tranquilamente.
Porém, temos tudo para dizer que os novos significados suplantarão os velhos e que para as novas gerações o termo amigo dentre muitos outros, será o que se tem hoje na internet: impessoalidade, virtualidade, afastamento, desconfiança etc. Um “adicionar” apenas, nenhum compromisso. Como sabemos disso? Pesquisas lingüísticas sempre comprovaram que para que uma palavra ganhe um outro significado e o antigo significado morra, basta que o novo significado seja amplamente usado enquanto o antigo seja, ou substituído por uma palavra criada, ou usado em outra, ou esquecido. Diante do mundo em que vivemos não precisamos pensar muito para saber o que acontecerá. Um exemplo clássico desse tipo de mudança pode ser observado na palavra bead, do inglês, que atualmente significa "conta de um colar". Bead provém do inglês antigo, gebed, e significava “reza, oração”. A explicação da mudança de significado de “reza” para “conta” vem do fato do costume, entre os membros da Igreja Católica, de contar suas rezas ou orações em rosários, formados por contas. Por causa disso teve-se que se emprestar a palavra “prayer” do francês para cobrir o sentido deixado vago para “oração”. Se uma palavra tão forte como orar, passou a denominar única e exclusivamente “conta de um colar”, será que seria demais dizer que amigo deixará de significar o que significou para Jesus!? “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos (filos “alguém muito amado, querido, com quem se tem uma aliança de amor, alguém que se ama com o mesmo amor que se tem por um ente familiar, etc.), porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer Jo 15:15.” Felizmente, as palavras bíblicas ficaram registradas para que estudemos o seu significados na época de Jesus e seus primeiros discípulos, pois é por elas que seremos julgados.
A questão aqui não é ser partidário de algum pensamento que queira impedir que a língua se modifique, muito pelo contrário, é alertar o leitor para que saiba que nos dias atuais, nos últimos ataques do inimigo, nem mesmo as línguas (idiomas) escaparão, quando se mina o principal meio de comunicação, mina-se a comunicação, o que vem depois disso como na Babel dos tempos bíblicos é segregação, distanciamento, desunião. Daqui a alguns anos quando se ouvir que Jesus é nosso amigo (significante) que sentido (significado) as futuras gerações darão a isso? A nova Babel está às portas. Pense Nisso!

Rodrigo Nunes da Silva



Referências Bibliográficas


BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. O Dicionário como Norma na Sociedade. UNESP.

CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística: Uma Introdução Crítica. Parábola. São Paulo, 2007.

CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. 6º ed. Editora Ática. São Paulo, 1961.

GONDIM, Ricardo. Fim de Milênio. Os Perigos e Desafios da Pós-Modernidade na Igreja. Abba Press. São Paulo, 2002.

MUSSALIM, Fernanda; BENTES Anna Christina. Introdução à Lingüística. Vol 1. 6º ed. Editora Cortez. São Paulo, 2006.

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