segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Você pensa que ter uma visão perceptual da realidade é a mesma coisa que assistir algo na televisão?

Você já parou para perguntar a si mesmo. Qual será a diferença para os olhos entre observar uma paisagem, um fato do dia a dia e assistir algo, uma paisagem, uma ação humana pela televisão?  E quais seriam as consequências aplicadas ao ser humano total a respeito deste ato de assistir inconscientemente a televisão?

Creio, que poucos já fizeram esta pergunta para si mesmos. Assim,  como eu também,  até uns 6 anos atrás não tinha feito esta pergunta para mim.

Ao tomarmos contato visual com um aparelho de tela nos deparamos com o desaparecimento do espaço tridimensional, isto por sinal,  é algo que tem preocupado muito os cientistas que trabalham para as indústrias de aparelhos de tela, haja visto que aparelhos de tela com a possibilidade de visualização tridimensional já começam a circular pelo mercado. Mas, porque será que existe está preocupação em transmitir  as imagens em 3D?

Na tela, a qual estamos acostumados, surge uma superfície em que o espaço é representado de maneira ilusória, através das leis da perspectiva. Ainda relacionando  a ilusão do que é visto através da tela plana, pode se citar o movimento dos objetos na superfície, dando ao observador a impressão de que estes estão se afastando ou se aproximando.

Após vários anos assistindo as programações através do televisor, a visão das pessoas não será a mesma. Os olhos são os únicos orgãos sensoriais do corpo humano possuidores de uma variedade de músculos, o qual nos permitem enxergar nitidamente de perto e de longe(acomodação) e também possibilitando o posicionamento de um objeto no foco visual. Segundo Heinz Buddemeier, isto significa que ocorre um cruzamento dos eixos visuais sobre o ponto que queremos observar com exatidão.Mesmo quando o olhar permanece fixo em algo, por exemplo, um rosto, os olhos examinam esse objeto ininterruptamente, com movimentos mínimos(saccades).Desta forma, podesse dizer que a visão humana é muito ativa e os olhos são músculos muito vibrantes.

Imagine agora as consequências da fixação do olhar  através do assistir a televisão.

1º - Inconsciência
Uma das consequências desta fixação no olhar que o assistir televisão causa é a inconsciência. Através de pesquisas realizadas a décadas já se sabe que os telespectadores-ouvintes  entendem e gravam um mínimo daquilo que lhes é apresentado. E até os nossos dias, nenhum esforço para alterar este estado de inconsciência tem funcionado.

É lógico que existem aqueles que protestam dizendo estar acompanhando os programas com grande atenção. Segundo Buddeimer, o que acontece é o seguinte,  ao assistir a televisão há o enfraquecimento da consciência, isto leva por consequência ao amortecimento das impressões sensoriais. Assim sendo, quem está cansado física e mentalmente procura distanciar-se, assim que possível, dos estímulos sensoriais do dia agitado. Quando então,  a pessoa vai assistir a televisão, acontece dela ser bombardeada com impressões óticas e acústicas, que são mais intensas do que aquelas do dia  a dia, como o contato com o aparelho de tela leva a pessoa a um estado de consciência adormecida, ao  agregar as impressões óticas e acústicas a uma mente inconsciente, criasse um estado de tensão interna, que subjetivamente é sentido como de atenção.

2º - Alteração da interação entre a pessoa e o mundo real
Outra consequência causada pelos meios televisivos é a mudança no modo de interação da pessoa com o mundo real. Ao assistir a televisão todas as pessoas olham o mundo de uma mesma perspectiva, isto não acontece no dia a dia, onde cada posição é ocupada por um indivíduo e assim todas as pessoas enxergam o mundo por um ângulo deiferente. Através da tela, todos temos uma única visão pelos olhos da câmera. Isto rompe o vínculo entre a posição do indivíduo e os acontecimentos ao seu redor. Na tela da televisão pode aparecer o mundo inteiro, mas o observador não faz parte do que está sendo exibido, é necessário daí a construção de uma conexão de imagens, através de comentários extras ou indicações explícitas  entre a imagem anterior e a posterior. Por não estar participando com a totalidade perceptual do seu corpo, diante da tela, o espectador não conseguirá realizar um julgamento crítico entre as conexões da tela, diminuindo consideravelmente sua capacidade de análise crítica e possiblitando assim por parte daqueles que controlam o que vemos na tela uma fácil manipulação  dos espectadores.

Para o ser humano possuir um julgamento crítico a respeito do que vê, é necessário que ele observe de perto, corporalmente, afim de que ele perceba a interação entre aparência e essência, pois a essência interior ou alma, influencia a aparência exterior ou corpo e se manifesta através deste. É lógico que através da tela podesse ter em certo grau a percepção de ambos, porém a percepção das faculdades da alma ( sentir, querer e pensar)  requer muito mais tempo, atenção e paciência, o qual somente será possível através de um contato pessoal concreto.

É importante frisar que a objetiva da câmera é comumente comparada com o olho humano, o que leva as pessoas a cometer equívocos, pois a visão humana diferencia-se dos processos mecânicos, pois o olho humano trabalha associado a uma variedade de percepções sensoriais permitindo assim um acesso a alma humana. Já, quando o olhar humano é dirigido a uma pessoa reproduzida tecnicamente, a visão não se ocupa de nada mais além da superfície, pois a câmera só tem acesso ao exterior do ser humano, o que desta maneira efetuará uma separação entre as verdadeiras reações das faculdades  da alma e as manifestações corporais. Por conhecer as implicações de como funciona o olho humano a partir da contemplação de imagens em uma tela,  e uma visão sem intermediação da mesma, é que os profissionais de televisão estudam e trabalham para que as ´´impressões`` que captamos com relação ao caráter, sentimento, comportamento dos atores, apresentadores, através da tela sejam cada vez mais reais para o telespectadores, isto eles fazem, exagerando nas reações psíquicas de tristeza, alegria, ódio, amor, etc... dos atores, além de trabalharem muito na escolha dos fundos musicais apropriados para cada sentimento e comportamento exigido na cena trabalhada,  a escolha dos cenários, iluminação também estão ligadas a esta preocupação dos profissionais que trabalham com a tela. Como a visão das reações exteriores dos artistas da tela, acabam por influenciar nossa impressão da imagem interior que temos  dos mesmos, estes e outros detalhes mencionados  acima,  são exaustivamente  trabalhados pelos diretores, pois eles sabem que por mais perfeito que um artista possa representar seu papel, nunca haverá um encontro entre dois eu através da tela, impossibilitando assim o exercício de um aprofundamento da análise humana a respeito daquilo que ele está vendo, pois a diminuição na utilização das percepções humanas acabará por diminuir cada vez mais a capacidade de criticidade do ser humano.

Enfraquecimento da imaginação
Uma outra consequência que a televisão traz ao ser humano, e que a maioria das pessoas nem percebem e outras acham que é um absurdo, é justamente o enfraquecimento da imaginação. A imaginação somente pode ser exercitada quando o ser humano tem uma participação real, concreta, histórica, social, psquíca com uma realidade quer seja intuitiva ou exterior. 
 
A imaginação possibilita ao ser humano superar crises e conflitos que ocorrem durante  o seu  dia a dia e também a aprofundar-se no seu próprio interior, pois a imaginação é uma força, uma capacidade humana, que une  as percepções sensoriais  e as capacidades interiores do ser humano.

Assim sendo,  a imaginação é algo que somente pode ser verdadeiramente exercitada, quando o ser humano está no pleno uso de suas percepções sensoriais e das suas faculdade psíquicas, algo impossível pelo uso contínuo da televisão, pois segundo Buddemeier:

A.    A tela das mídias eletrônicas reprime o contato com a literatura impressa. A leitura a partir do texto impresso através do padrão com o qual ela trabalha , é uma das grandes facilitadoras da imaginação, pois este meio, faz surgir mundos interiores de alta complexidade e sutileza, enfim a literatura de forma impressa é facilitadora de um pensar calmo que permite uma concentração mental, além de   associar conceitos e imaginar personagens, paisagens, que são grandes propulsores da imaginação humana, algo impossível de se conseguir através de uma mídia eletrônica;

B.   A movimentação das imagens e sua mudança veloz provoca a fadiga dos olhos. O espectador tenta ver o máximo possível do que lhe é mostrado. Isto impede as pessoas de usarem a imaginação, pois ela somente se desenvolve a partir de momentos de reflexão;

C.   E por fim, as imagens vindas pela tela da mídia eletrônica mostra somente  a superfície das coisas e das pessoas, não existe nenhuma característica interior para se descobrir, para desta forma a imaginação ter para onde dirigir sua atividade.

Acredito que somente estas três consequências alistadas de forma bem resumida neste artigo, possam lhe despertar para diferença entre o olharmos para algo com a participação da percepção sensorial global humana aliada as faculdades da alma,  e o assistirmos uma imagem técnica advinda pela televisão, para que você possa buscar suas próprias conclusões e assim melhor discernir sobre,  se você está:

  1.          Trabalhando e desenvolvendo a sua consciência concernente aquilo que está ao seu redor; 
  2.         Construindo uma verdadeira interação com a realidade e assim  desenvolvendo sua capacidade de ser uma pessoa crítica;  
  3.          Desenvolvendo sua  capacidade imaginativa, para a cada dia ser mais produtivo na sua inteiração com a realidade social que o cerca  .

Abraço
Elias

Bibliografia
Buddemeier, Heinz. Mídia e violência. São Paulo. Ed. Antroposófica. 2007

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