domingo, 5 de dezembro de 2010

Os efeitos iconoclastas da internet (Segunda Parte)

Prosseguindo, desejo deixar claro, que os efeitos iconoclastas vindos pela internet nos atingirão, querendo nós ou não. Contudo, apesar de afirmar isto, em hipótese alguma desejo provar ou demonstrar uma visão pessimista da realidade presente e principalmente futura, afinal , para os filhos de Deus está reservado uma Bendita Esperança ´´Tito2:13``. Antes, são considerações que uma pessoa de bom senso e consciente da realidade que nos cerca, pode discernir facilmente, a partir de uma ou mesmo várias observações,  sem pré - conceitos.

Por isto, leia com atenção e reflita sobre cada um destes efeitos que estão reorganizando o modo como pensamos, interagimos, enfim, vivemos, para que você tenha sua própria análise e assim concorde ou não com este autor. Pois, meu maior objetivo, não é forçar ninguém a aceitar o que escrevo, mas levar as pessoas a pensarem de forma mais consciente e profunda, através de um ponto de vista crítico, diferente e não ligado ao senso comum da maioria.

Quais são outros efeitos iconoclastas da internet ?
 
  1. Esfacela a reflexão e o discernimento (devido a enxurrada de informações). Humberto Eco,  declarou no Fórum de Davos que "A enchente de informações leva à idiotização da sociedade." Alguns acham que quanto mais informações adquirirem, mais inteligentes eles ficarão, porém o que a maioria das pessoas não sabem é que  o acesso a informação, através dos meios de comunicação de massa e pelo computador,  é totalmente diferente de tudo aquilo com o qual o ser humano esteve acostumado por milhares de anos. Pois, a quantidade e a forma pelo qual a humanidade adquiria as informações não se compara com aquilo que nós temos na atualidade, ou seja, o quanto de informações que consciente ou inconscientemente adquirimos, através de panfletos, folders, livros, jornais, revistas, outdoors, rádio, televisão, celulares, computadores, smartphones, Ebooks, etc.. em nossos dias,  juntando com a diferença de padrão que  cada um destes meios utiliza para adentrar em nós, é algo com um volume da dados e informações gigantesco, com o qual o ser humano normal, não consegue ´´processar`` normalmente em  sua mente.

Com isto não estou afirmando que o cérebro humano é limitado, longe disto, a própria ciência especializada ainda não descobriu tudo sobre o cérebro... quanto mais um educador poderia pensar algo assim. O que estou querendo dizer, é que aqueles que hoje ou no passado podiam conviver conscientemente com uma quantidade gigantesca de informações, eram e ainda são estudados como pessoas com transtornos, com habilidades ´´especiais``, não enquadradas no padrão ´´normal``. Pois, até hoje o ser humano tem se utilizado do esquecimento e da memória para poder filtrar tudo o que lhe  chega intelectual e perceptualmente. 

Alguém pode perguntar e afirmar ao mesmo tempo: Mas o nosso cérebro precisa exercitar-se continuadamente para não permitir que ao envelhecermos, doenças como o Mal de Alzheimer, nos atinjam? Sim, e ele deve exercitar-se, adquirindo muita informação. 

Existem diferentes formas na maneira como exercitamos nosso cérebro e elas precisam ser conhecidas. Como por exemplo, ao realizarmos exercícios físicos onde trabalha-se as lateralidades, estamos exercitando o cérebro também, assim como quando se brinca ou se joga xadrez, dama, dominó, quando se monta um quebra-cabeça; trabalha-se na organização de um cubo mágico; quando se completa palavras cruzadas ou mesmo se constrói um origami, estamos exercitando nosso cérebro. Não se pode esquecer da leitura, outra forma importante de exercitarmos o cérebro, mas neste aspecto, é necessário conhecermos qual o meio utilizado para se ler um texto, pois cada meio implica em um padrão diferente e que por sua vez agirá em nosso cérebro de forma diferente, pois o padrão da tela é diferente do padrão impresso.Assim sendo, não é tão simples esta discussão, sobre como exercitar nosso cérebro, sabendo que existem inúmeras maneiras para isto ser realizado.

Trabalhando essa questão dentro de uma perspectiva religiosa, o crente precisa saber que antes de conhecer a Deus e as coisas relacionadas a Ele pela razão, pelo acesso as informações contidas na Bíblia ou livros religiosos, antes de tudo isto, ele precisa ter o conhecimento a respeito de Deus no sentido de ter comunhão com ELE e não somente  ter  acesso e excesso de informação racional do que está escrito sobre Deus. Isto era o que o profeta Oseias queria dizer, quando disse: ´´Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor(...)`` Os.6:03. Portanto, não é importante termos acesso a informação? Com certeza, isto faz parte de nosso crescimento intelectual como cristãos, porém ele deve, precisa estar atrelado ao conhecimento anunciado pelo profeta Oséias, é parte da essência do Verdadeiro Cistianismo.  Assim sendo, não havendo um esclarecimento ao povo de Deus, a internet possibilitará uma geração de crentes inchados de informação e por isto mesmo deformados. Preste atenção: inchados e não realmente crescidos, amadurecidos na graça e no conhecimento (relacionamento) de Deus.

2. Fragmenta valores (morais, éticos, religiosos). É bom frisar, que é o ser humano que está colocando tudo em frangalhos, esfacelando, fragmentando tudo o que conhecemos por valores. Entretanto, nunca houve um instrumento com um potencial tão forte e avassalador para destruição de tudo o que existe. E, este Meio como estamos estudando, é a grande Rede de computadores, que foi construida de tal forma a ser  instrumento de destruição. Tomemos como exemplo, a propaganda eleitoral, quando a Rede é utilizada pelos adversários políticos afim de destruirem a imagem de seus oponentes, sem dó nem misericórdia (é somente recordarmos das últimas eleições presidenciais, tanto no Brasil como nos Estados Unidos) e se isto é dito como verdade quanto a destruição da imagem de uma pessoa que pode defender-se, quanto  mais quando a verdade é com relação a valores, virtudes. 

A rede como é dito pelo mundo a fora, é super democrática e por isto mesmo toda sorte de idéias, pensamentos, valores podem ser divulgados nela. O problema não são os maus valores, pensamentos e as más idéias  serem transmitidos pela internet, o grande problema é que a maioria das pessoas que acessam e usam a intenet são adolescentes e jovens, que infelizmente não possuem um senso crítico em  alerta, ou mesmo aqueles que estão na idade adulta e usam a internet parecem não estar refletindo sobre o que acessam e acabam inconscientemente assimilando princípios e valores contrários a Palavra de Deus. Por exemplo, o Relativismo (doutrina filosófica que nega o caráter absoluto das coisas e valores), acabando por negar ´´sem perceber``,para muitos cristãos desavisados, a realidade absoluta de Deus. Isto é, na internet a verdade e a mentira  tem vários lados  e todos tem razão... o certo é certo, segundo o que eu acho e penso,  e o errado é errado, segundo o que eu acho e penso e isto deve ser respeitado.  Por fim, desaparece a base absoluta do que é a  verdade  e do que é a mentira  e surge a verdade relativa de cada ser humano.


3. Aumento do empobrecimento da realidade através de sua representação em forma de dados e processamento destes últimos. Ou seja, a nova comunicação virtual destrói a compreensão  de fantasia e realidade. As pessoas estão perdendo a noção da diferença entre o que é virtual e o que é real. As pessoas não sabem a diferença de dados e informação, quanto mais diferenciar o que é fantasia e o que é real. 

Um dos problemas sérios dos aparelhos com tela, é que  eles dificultam ao ser humano  distinguir a fantasia da realidade . Portanto, tudo o que veem, em particular na TV, é tomado como algo que pode ser real. Entendamos isto a partir das crianças, até mais ou menos os 9 anos, elas  são extremamente abertas ao mundo, isto é, não desenvolveram um grau tal de autoconsciência, que as isole das suas vivências e lhes permitam encará-las objetivamente. Não poderia ser diferente, pois é nas idades tenras que a criança aprende com uma intensidade que nunca mais vai se repetir, começando pelo andar, depois o falar e por fim, o pensar (essa é a ordem natural, e se não é seguida, a criança poderá ter problemas, posteriormente). Tudo isso é aprendido por imitação; sem a citada abertura, não haveria essa possibilidade. As crianças naturalmente imitam o que veem ao seu redor. Experimente fazer repetidamente ao lado de uma criança pequena um certo movimento com um braço ou uma mão – depois de pouco tempo ela começará a imitar o gesto.

Uma boa parte da educação, no lar e na escola, é dedicada ao desenvolvimento da capacidade de se associar uma percepção a um conceito. Para isso, é necessário desenvolver essa capacidade de se chegar aos conceitos corretos correspondentes. Nesse sentido, a TV provê uma imagem virtual, completamente fora da realidade. Pode, assim, haver uma inversão: em lugar da criança associar a imagem exibida no aparelho com algo que ela conhece do mundo real, ela pode fazer a associação do que observa no mundo real com a imagem que viu no aparelho. Veja um exemplo, extraído de uma  história real, sobre uma menina pequena que viu um leão e, em lugar de ficar com medo, correu para 'brincar' com ele, pois tinha visto um seriado na TV onde havia um leão bonzinho, foi obviamente estraçalhada. Nesse caso, ocorreu justamente a inversão citada da fantasia com a realidade. 

Por outro lado, é fundamental durante essa época de imitação, em que a criança está extremamente aberta para o mundo (senão não conseguiria imitá-lo), não está separada dele e tem nele uma absoluta confiança, então que  se apresente, tanto em figuras como na prática, apenas o que é bom, belo e verdadeiro. É importante frisar que o mau, feio ,falso e o diabólico podem ser apresentados sob forma de imagens mentais. Como é o caso dos contos do fadas verdadeiros e histórias bíblicas,  porém como acontece nas histórias bíblicas, sempre é exposto este embate através do princípio bíblico ,onde o mau e o diabólico, apesar de todas as suas aparentes vitórias em algumas batalhas, acabam  sendo vencidos pelo Bom e Verdadeiro e pela  pessoa de  Deus. 

4. Aumento da velocidade das reações que os usuários são obrigados a exercer. Segundo Valdemar Setzer, o ser humano precisa reagir rapidamente. Isto significa dizer, que é como se o ser humano fosse reduzido a uma máquina, para agora poder agir e  reagir cada vez mais rapidamente. As pessoas  estão sendo treinadas para isso, por meio dos terríveis joguinhos eletrônicos e pelo uso de computadores. É uma verdadeira 'maquinização' do ser humano em termos de suas ações. O raciocínio é sempre lento, a menos das idéias intuitivas que devem  sofrer uma calma reflexão, antes de se agir - o que os animais não podem fazer, pois seguem seu 'programa' impulsivamente. Porém ,a  Tecnologia de Dados,  que é a tecnologia  usada para o funcionamento principalmente dos computadores, é que impõe uma velocidade que não está de acordo com essa lentidão de nosso pensamento consciente. Para podermos pensar cada vez mais rapidamente, esta tecnologia tem construido um padrão cada vez mais restrito para a comunicação entre as pessoas. É somente olharmos o padrão  criado para se escrever nos chats, blogs, orkuts, tweeter( os emoticons e o internetes,´´vc.;Kd; aki,blza,etc...), o que as pessoas não percebem  é que esta diminuição das palavras está ligada a lógica das midias digitais, que é tornar a intercomunicação entre as pessoas não somente mais rápidas, mas sem profundidade.
E levando isto,  para as influências pedagógicas no campo religioso, como por exemplo, nas áreas da evangelização, ensino e pregação, em breve , todas estas atividades que exigem comunicação tornar-se-ão comunicações não simples, mais simplistas, sem profundidade. Tenho uma hipótese de que o incomôdo que muitos hoje, já não suportam pregações de 40 minutos a 1 hora, é devido não apenas  pelo conteúdo de muitos pregadores serem ´´tristes``, mas também,  porque um conteúdo realmente bíblico por mais simples que seja, exige reflexão, atenção e isto é justamente o que a geração ´´net`` menos quer,  ou seja,  pensar com profundidade e prestar atenção naquilo que está ouvindo. Hoje mais do que nunca, as palavras ´´Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz as igrejas``Ap.2.7a;  são palavras as quais devemos estar bem atentos, se não quisermos cair no comodismo e falta de profundidade das pregações atuais. E ,não venham dizer, que a profundidade não está relacionada com o tempo de duração da pregação...Concordo, mas somente em parte, pois além de estar baseado no senso comum, não possui base bíblica definitiva. Embora,haja referências biblicas de algumas mensagens  que foram curtas, existem outras que duraram algumas horas,é somente lembrarmos de Esdras (Ne.8:02-08) e Paulo (At.20:09), sem mencionarmos Jesus, pois a própria Bíblia diz que ´´pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra será confirmada`` Mat. 18:16; IICo. 13:01. 

Isso sem falar na influência comportamental, devido a  velocidade absolutamente desumana das máquinas e da sociedade,  o qual tem criado uma geração de apressados e ansiosos. Essa questão de velocidade está penetrando nos negócios, na educação, na vida cotidiana e escolar. Pois bem, estamos entrando na era da 'lei do mais rápido': pessoas, empresas, igrejas que não se internetarem rapidamente serão engolidas pelas que o fizerem. Mais rapidez para a sociedade, porém mais desumanização do ser humano e pode-se dizer , mais mundanização da igreja

5. Diminuição do auto-controle. A Internet exige um enorme esforço de auto-controle. O lixo informativo nela armazenado está crescendo exponencialmente. É preciso muito critério para uma pessoa concentrar-se e buscar apenas o que lhe é útil e não ser atraído por baboseiras perniciosas e despender assim apenas o tempo necessário para obter as informações procuradas. O ser humano é curioso, por natureza, ele sempre quer buscar mais, a internet possui praticamente tudo o que diz respeito ao saber acumulado historicamente pela humanidade.  E, cada dia esta quantidade aumenta assustadoramente, assim o ser humano, em seu desejo de conhecer, buscar, descobrir, está sem perceber, perdendo inconscientemente a sua capacidade de auto-controle ou biblicamente falando de ser uma pessoa temperada, que tem domínio-próprio.

6. Força uma estagnação da vida humana e cristã. A internet tem a capacidade de congelar características físicas e comportamentos do ser humano. No mundo virtual, geralmente as pessoas se deixam ver só como intelectual ou só como artista ou só como atleta, ou só como religioso, ou só como conselheiro, ou só como uma pessoa alegre, ou triste, enfim a internet nos congela em uma só caraterística física, em um só comportamento, ou em uma só qualquer coisa, o que importa é que aquela imagem cristalizada, permaneça.

 A Bíblia nos aconselha a crescermos, amadurecermos, desenvolvermo-nos enfim, a não estagnarmos na nossa caminhada, principalmente a cristã,´´pois a vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando, até se tornar dia perfeito`` Pv. 4:18, e  biblica, sociológica e antropologicamente falando, o ser humano é uma só pessoa que possui diversos papéis a serem desempenhados, assim sendo qualquer congelamento, estagnação vai contra a nossa estrutura biológica, social, psicológica e espiritual  como seres humanos.

       Segundo Neil Postman ´´As novas tecnologias alteram a estrutura de nossos interesses: as coisas sobre as quais pensamos. E alteram o caráter de nossos simbolos: as coisas com que pensamos.E alteram a natureza da comunidade: a arena na qual os pensamentos se desenvolvem´´. A família, a escola, a Igreja continuam a ter influência, cada qual a seu modo, mas não devem  ignorar os efeitos da informática, que cada vez mais exercerá influências comportamental, social, psiquica e religiosa nas pessoas.

7.O Testemunho cada vez se tornará menos importante na pregação do evangelho (Mt. 24:14). O texto de Mateus trabalha duas palavras para caracterizar a pregação do evangelho. Baseados nas considerações de Ronaldo Lidório, em sua análise à luz do texto supra citado,  veremos o que cada uma destas palavras nos ensinam e como elas estão interligadas.A primeira palavra, é a expressão grega para “e será pregado”, que tem como raiz kerygma. Esta ação kerygmática aponta para o fato de que o Evangelho será pregado de forma compreensível, inteligívelmente, ou seja a pregação do evangelho pressupoem sistematização, organização, como comunicar e que meios utilizar.

 A segunda palavra, é martyria que evoca um sentido mais pessoal, de testemunho de vida. Martyria deu origem a nossa palavra mártir, aquele que se necessário está  disposto a não somente usar suas atitudes, sua vida, mas até mesmo entregar a   mesma  para que o evangelho alcance o pecador, assim sendo, martyria, coloca-nos na  situação  que para pregarmos o evangelho, é necessário e fundamental usarmos o  nosso corpo físico, para anunciar o evangelho de forma completa. Imaginem o ´´avatar`` do missionário, do pastor sendo ´´presos`` e ´´mortos`` virtualmente?

 Desta forma, temos que,  ou aceitar o que o texto bíblico nos revela, ou adaptar ele às nossas conveniências e facilidades para a pregação do Evangelho. Preferiremos assim,  pregar um Evangelho de resultados, mas incompleto? Ou um Evangelho pleno, totalmente de cara limpa ,por isto mesmo menos vistoso e palatável a uma geração influenciada pela internet, porém fiel a boa, agradável e perfeita Vontade de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras?

Abraço
Elias

BIBLIOGRAFIA 
      Estudos Bíblicos. A Bíblia na mutação cultural. Petrópolis. Vozes. 1999
      Setzer, Valdemar W. .Meios eletrônicos e educação (uma visão alternativa).São Paulo. Escrituras.2001.
      Vasconcelos, Elias. Apostila DisciplinaTemco (Teoria dos Meios de Comunicação) e outros textos - Semear

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