quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Para onde a sedução do consumismo nos levará? Necessidade ou Conforto desnecessário?

Preste atenção. Isto que está escrito neste curto texto, são hipóteses minhas, que desejo compartilhar, para que mais pessoas parem para pensar,  e assim, reflitam sobre o atual estado da nossa sociedade de consumo.

Quando era menino, década de setenta,   as pessoas que possuiam telefones fixos e automóveis, eram uma parcela reduzida da sociedade,  e olha que cresci na maior cidade do país, São Paulo. Na época, a maioria das pessoas  que tinham automóvel e telefone, eram da classe média alta ou alta, aqueles que possuiam ou só carro ou somente telefone, eram enquadrados na classe média e existiam alguns que possuiam ou carro ou telefone através de muito custo ou por necessidade de trabalho, a grande maioria da sociedade, usava o já precário sistema de transporte público e os velhos orelhões.

Os anos passaram, e após três décadas,  a sociedade brasileira mudou, entramos em um novo período, agora de´´estabilidade econômica``  . Quando olhamos as ruas abarrotadas de carros e praticamente cada cidadão com um celular à mão, surge a pergunta; Será que somente a estabilidade econômica foi  quem  gerou um maior número de empregos e por isto mesmo maior circulação de dinheiro e o acesso maior e mais fácil ao  ´´consumismo`` dos automóveis e celulares?

Minha resposta...

Não. O que tem feito as pessoas consumirem  mais automóveis e telefones (fixos ou principalmente celulares) é a forma sedutora como estes produtos são apresentados as pessoas. As novas tecnologias não são apresentadas somente como facilitadoras do viver, como locomover-se mais facilmente e mais rápido, caso dos carros e romper barreiras comunicacionais antes intransponíveis  através dos celulares, na verdade estas novas tecnologias e outras são apresentadas de forma subliminar à sociedade,  como portadoras de status, poder, conforto, alegria, segurança, estabilidade e etc...

Mas, e aquela velha história;´´Isto ou aquilo não é mais um luxo, mas uma necessidade...`` O meu posicionamento quanto a este chavão, é isto que ele é na verdade, é o seguinte.  Quem  faz a necessidade, em parte,  são as indústrias  as agências de publicidades e os governos.

As indústrias querem ganhar cada vez mais, então produzem cada  dia mais produtos, mas para isto, elas  precisam esvaziar os seus  estoques, a partir daí, entram em ação os escritórios e  as agências de publicidades que irão apresentar os produtos da indústria de forma maquiada, incultindo nas pessoas  a necessidade que elas ´´tem``,  deste ou daquele produto, nunca esquecendo que elas trabalham com a apresentação de um produto e com os desejos e instintos básicos de todo ser humano. Os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à ação.

Todo instinto tem quatro componentes:
  • uma fonte;
  • uma finalidade;
  • uma pressão;
  • um objeto.
A fonte é quando emerge uma necessidade. A finalidade é reduzir essa necessidade até que nenhuma ação seja mais necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele deseja no momento. A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer o instinto e é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original. Exemplo: ´´Você precisa imediatamente de um Smartphone de última geração, para não ficar ´´por último``´´ultrapassado``,ele permitirá a você, maior flexibilidade no seu trabalho, oportunidade de entretenimento, facilidade de comunicação através do próprio celular e ainda o acesso a e-mails, twiter, facebook, etc.... Você pode comprar via internet, telefone ou dirigir-se a um ponto de vendas mais próximo no seu bairro. Adquira logo o seu, a promoção tem tempo limitado até o final dos nossos estoques. Aumente o seu conforto, bem estar e satisfação e ganhe a admiração daqueles que estão ao seu lado, com o nosso novo Smartphone.``  

Já o Governo, precisa aumentar a arrecadação de impostos pela circulação de mercadorias, para isto cria políticas públicas que viabilizem uma maior circulação das mercadorias.

Desta forma, como a maior parte das pessoas são e estão inconscientes quanto aos seus impulsos instintivos e também quanto a manipulação destas três esferas que ajudam a criar a necessidade, elas acham, não pensam, mas acham que realmente precisam destes produtos.  Pois,  todas as pessoas hoje têm isto ou aquilo, e se a maioria tem é porque realmente é uma necessidade, não um luxo, afinal de contas,  a maioria tem ´´sempre a razão``.Porém, não devemos ser ingênuos a ponto de não considerarmos, que todas as pessoas agem inconscientemente  sem  ter sua parcela de responsabilidade em adquirir produtos que não são realmente necessários, antes elas consomem de maneira consciente, movidas pelo desejo de aparecer e revelar-se como possuidora de um produto que lhe trará maior status. Também é  importante frisar nesta altura do texto, que realmente o consumo é importante para girar a roda da economia, para que assim, se mantenha tanto o crescimento como a  estabilidade econômica, ninguém em sã juízo deseja o retorno de uma economia como aquela do final dos anos oitenta e início dos anos noventa,  e que  o carro e o celular de certa forma tem algumas funções dignas a desempenharem na sociedade, porém é certo  que existe uma febre de consumismo disseminada em nossa sociedade,  a qual  leva uma só pessoa a ter cinco, seis celulares, uma única família de quatro pessoas, sendo duas crianças de colo a possuirem quatro, cinco automóveis, e  criam outras situações, onde as pessoas  não tem como comprar alimentos e estouram o cartão de crédito e entram por fim sem prudência alguma  em setenta , oitenta prestações para adquirir um automóvel de última geração.

Também não sou contra o capitalismo, principalmente em sua forma inicial,  tal qual é apresentada por Max Weber, no seu clássico ´´Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo``, somente gostaria que as pessoas fossem mais sensatas e aprendessem  a consumir. Uma pergunta. Por que são poucas as pessoas  que possuem  bibliotecas com  mais de mil volumes em suas casas?

Para encerrar, coloco que é necessário termos consciência de que chegamos em um momento histórico, onde as mídias eletrônicas, principalmente as digitais, tem sido colocadas para as pessoas como algo de necessidade maior. Mas existe uma questão a ser considerada. Enquanto tudo o que foi imposto até agora para consumirmos, como ´´necessidade´´, de certa forma,  levaram muitas décadas para mudarem a relação homem - homem  e homem -sociedade, mas agora as mudanças serão muito mais rápidas e por enquanto totalmente imprevisíveis, pois a realidade digital dos nossos dias nunca existiu e aquilo que ela produz em todos os aspectos somente agora está sendo estudada, pois as influências das mídias eletrônicas são bem  diferentes daquelas relacionadas a produtos texteis, mecânicos, alimentícios, elétricos, impressos e etc.... Porém, aquilo que tem sido descoberto com relação as influências destas mídias eletrônicas sobre e nas pessoas até agora não aponta para uma sociedade realmente mais  humanamente saudável e justa. Por isto, para mim a pergunta do início  ainda continua preliminarmente sem resposta, e você já tem a sua?

Abraço
Elias

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