sexta-feira, 9 de novembro de 2012

TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA PARA ALFABETIZAÇÃO


A utilização das tecnologias digitais em qualquer área em que podem prestar um serviço eficiente, é uma discussão animadora e produtiva. Porém, sem desmerecer o debate que essa questão da utilização suscita, tanto no ambiente acadêmico, como leigo, quero deixar registrado, neste Blog, algumas ferramentas tecnológicas que tenho utilizado para desempenhar  atividades educativas, aqui em Foz do Iguaçu .

Lousa e giz: A velha lousa é uma das melhores tecnologias para o processo ensino- aprendizagem.  Partindo da perspectiva onde o professor é o protagonista na transmissão da informação e incentivador da construção do conhecimento, segundo Cintra, na lousa, ´´todas as informações surgem passo a passo. Nada aparece pronto de uma vez, num passe de mágica, ao contrário, os desenhos, as fórmulas, as definições, enfim tudo é construído sob o acompanhamento do aluno, o que didaticamente é primoroso``(p.11,2006).  Ainda, é fato incontestável que outro aspecto importante a ser mencionado é que a lousa é secundária, é uma ferramenta, e o professor é técnico, é o que tem o controle sobre o conteúdo.

Livros de Histórias infantis : O LIVRO é, sem dúvida alguma, uma das tecnologias mais avançadas, inventadas pelo ser humano. Millor Fernandes colocou de forma bem humorada, porém bem coerente algumas características desta tecnologia. Por exemplo, para ele, o livro ´´representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada, nem ligado. É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!``, ainda pode se dizer que ele é, ´´formado por uma seqüência de páginas numeradas, feitas de papel reciclável e capazes de conter milhares de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantêm automaticamente em sua seqüência correta``, o livro quanto ao processo para aquisição de informações´´pode ser rapidamente retomado a qualquer momento, bastando abri-lo. Ele nunca apresenta "ERRO GERAL DE PROTEÇÃO", nem precisa ser reinicializado, embora se torne inutilizável caso caia no mar, por exemplo``, além de outras constatações revolucionárias, o livro é uma fonte maravilhosa para o desenvolvimento da imaginação infantil, principalmente em se tratando dos livros sérios escritos para as crianças, isto digo a respeito daqueles oriundo da riquissíma ´´tradição oral (...) de todos os povos socialmente organizado`` (p.68,2008).

Instrumento musical: A utilização de instrumentos musicais, como a flauta doce e o Kântele, ajuda as crianças a respirarem de forma mais tranquila, a recuperarem um espírito sereno, além de ajudá-los no auto-controle e no desenvolvimento da inteligência musical.

Caderno de Desenho e giz de cera: A  utilização de caderno de desenho sem pautas, permite  às crianças ampla liberdade de expressão. Quanto maior forem as letras, ainda melhor ficará, para isto é fundamental que sejam de ´´forma``,  pois elas permitem que as crianças tenham maior tempo para o desenvolvimento do controle motor fino e uma maneira artística para escrever.  Além, do caderno se tornar o próprio livro de alfabetização da criança a um custo muito mais baixo que um livro didático convencional. O caderno sem pauta, portanto é aberto a toda produção de  conhecimento do próprio educando, onde reina a autonomia por excelência e o respeito íntegro à individualidade de cada aluno. E, por fim, pode ser dito a respeito da simplicidade do material de alfabetização, é que o  giz de cera, tipo estaca, servirá ao mesmo tempo para escrever e desenhar.

Fontes
Cintra, José Carlos A. Didática e oratória com data-show. São Carlos. Editora Compacta, 2008
Passerini,Sueli Pecci. O fio de ariadne: um caminho para a narração de histórias.São Paulo. Editora Antroposófica, 2004

Fotos da Lousa








Fotos de cadernos de alunos







segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O professor e o desenvolvimento das potencialidades das crianças em idade escolar (6 – 8 anos)


A partir do contato diário com crianças, em idade entre 6  até 8 anos, com o objetivo de alfabetizá-las,  posso dizer que ensinar  conteúdos  abstratos não é tão difícil assim, também não é tão fácil, como se pode imaginar. O que  realmente é mais difícil , é ajudar as crianças a  desenvolverem  naturalmente as  diversas potencialidades*  existentes nelas.

O que pude perceber  no trabalho educativo, sobre o desenvolvimento natural das crianças em   suas diversas potencialidades?

Não saber teórica e simplesmente o que uma criança deve fazer, mas:
·         Conhecer, de fato, as potencialidades de cada  criança;
·         Conhecer como as novas tecnologias de comunicação afetam integralmente as crianças;
·         Propocionar uma aprendizagem baseada na cooperação e nunca na competição;
·         Saber em qual  idade a criança individualmente  manifesta cada uma de suas potencialidades;
·         Saber quais são as necessidades das crianças e não a dos adultos;
·         Incentivar a curiosidade;
·         Propocionar um ambiente social amoroso;
·         Propocionar um ambiente para que elas  se manifestem de diferentes maneiras;
·         Fazer a criança desenvolver-se  através de uma aprendizagem orgânica –social – emocional;
·         Relacionar a aprendizagem com a vivência  ambiental da criança;
·         Despertar a vontade das crianças;
·         Incentivar a descoberta pouco a pouco, não  a aprendizagem definitiva ...

Potencialidades*: Potencial criativo, Potencial artístico, Potencial social, Potencial espiritual, Potencial cinestésico, Potencial emocional, Potencial volitivo, Potencial lógico-abstrato, ...

Abraço
Elias

segunda-feira, 9 de julho de 2012

É tudo tão simples ?


Artigo de Vicki Abeles, pertinente e interessante, porém não tão fácil assim de aplicá-lo à nós e nossas crianças, ainda que muitos dirão que fazem justamente como o texto coloca a questão da criação dos filhos. Confira.

É tudo tão Simples

Sou contra festa do pijama, acampamentos escolares antes dos sete anos, noite do soninho na escola e todos esses modismos vazios. Quando a criança nasce e durante a primeira infância, precisa ser abraçada, acolhida, protegida. Quando jovem, sim, é hora de se lançar ao mundo. Hoje vemos os pais e educadores fazendo o movimento inverso com nossas crianças.
 
Vicki Abeles
Tradução - The New York Times
 
Uma coisa que aprendi com uma educadora e professora dinamarquesa de muito bom senso é que quando se trata da educação de nossas crianças, não é preciso inventar moda. Pelo contrário, tudo é ou deveria ser tão simples.

Percebo que a primeira infância anda cada vez mais vulnerável e desprotegida. E não falo em termos sócio-econômicos, falo das conseqüências do que temos oferecido para nossas crianças em termos emocionais, que tem acarretado uma geração de jovens infelizes e agressivos e uma legião de indivíduos inseguros em todas as classes sociais.

Esse fenômeno vem ocorrendo no mundo todo, fruto dos reflexos de nossa cultura que exporta para todos os cantos da terra um estilo de vida insano e doentio sob todos os aspectos. Uma cultura que preza a competição, as aparências, o sucesso a qualquer custo, a sociabilidade forçada e falsa das redes sociais.

Muitas crianças estão sofrendo da ausência do calor e carinho dos pais, não porque ambos precisem trabalhar fora, mas porque, quando estão pais e crianças juntos, muitos pais optam por afastar os filhos em nome de modismos vazios, buscando as ilusões e o excesso de estímulos do mundo externo, quando deveriam oferecer as crianças o aconchego do mundo familiar, da casa, do quarto aconchegante, do chão da sala acolhedora, da cozinha cheirando o preparo das refeições, do quintal.

Quando a criança nasce e durante a primeira infância, a criança precisa ser abraçada, acolhida, protegida. Quando jovem, sim, é hora de se lançar ao mundo. Hoje vemos os pais e educadores fazendo o movimento inverso com suas crianças.

Um exemplo é o de escolas que incentivam crianças menores de sete anos a dormirem fora de casa, em acampamentos escolares ou mesmo na escola, inventando atividades completamente vazias do ponto de vista sócio-pedagógico. A criança na primeira infância precisa do amor e da segurança do seu lar, ela precisa dormir sabendo que seus pais estão logo ali ao lado, caso ela sinta medo ou qualquer desconforto, precisa crescer acolhida e cercada da presença de seus pais e familiares. Isso não significa que os pais precisem estar o tempo todo à disposição da criança para brincar e realizar atividades quando estão juntos. Para a criança, basta a presença do adulto amado e fonte de exemplos, que ele esteja ali, próximo e ao alcance, zeloso e presente, de preferência todos recolhidos dentro do lar.

Hoje os pais trabalham fora o dia todo e o convívio de pais e criança dentro de casa é escasso. Quanto mais a criança menor de sete anos puder desfrutar do aconchego de seu lar nos fins de semana, melhor, porque é esse recolhimento e acolhimento que lhe dá segurança e a fortalece emocionalmente. Não é a freqüência ao shopping hiper lotado, a festa no Buffet da moda todos os sábados, a festa do pijama semanalmente, seja em casa ou na casa dos amigos, que tornarão uma criança sociável, adaptável.

Muitos pais, preocupados precocemente em ter filhos que sejam populares, bem aceitos pelo grupo, que façam sucesso socialmente _ uma preocupação a meu ver precoce demais para se ter em relação às crianças pequenas _ empurram esses pequenos seres para um mini universo adulto, que os confunde, os aborrece, os frustra e muitas vezes os amedronta. Onde estão meus pais? Quem aqui zelará por mim, me afagará ou me dará o abraço protetor caso eu sinta medo? Cercada de adultos muitas vezes desconhecidos, a criança carece do apoio dos adultos que ama, daqueles nos quais ela confia, normalmente pais, avós ou tios mais próximos.

Conheci uma garotinha de quatro anos que passou uma semana toda tendo pesadelos a noite. Indagada pela mãe que já não sabia mais o que fazer para acalmá-la, finalmente a garota confessou. Estava apavorada com a possibilidade de ter que dormir uma noite, longe dos pais, num acampamento promovido pela escola. Diante do sofrimento da filha, a mãe suspendeu a participação da filha junto ao colégio. 

Esses pais esquecem que o mundo da criança pequena é o mundo do aconchego, da serenidade e da tranqüilidade de um lar amoroso, com rotinas e ritmos. Acordar, tomar café, brincar no quintal, almoçar, tirar uma soneca se for o caso, brincar à tarde no chão da sala, tomar um banho ao anoitecer, jantar, ouvir estórias e adormecer.

Crianças pequenas não deveriam brincar na rua e serem empurradas para o grupo em espaços abertos sozinhas antes dos sete anos de idade. Crianças pequenas ainda estão aprendendo a reconhecer a si próprias, portanto não sabem ainda dividir, compartilhar. Elas já são obrigadas a viver essa experiência na escola, portanto importante seria poupá-las quando estivessem em casa. A criança que freqüenta escola desde muito pequena sente uma vontade enorme de desfrutar mais do aconchego de seu lar, mas não sabem verbalizar esse desejo.

Muitas acabam demonstrando essa vontade agredindo colegas, desentendendo-se com seus pares o tempo todo, chorando e mostrando-se irritadiça com a falta de momentos de descanso, repouso e intimidade com seus familiares. Elas estão clamando por aconchego, recolhimento, porque é natural do ser humano ter necessidade de se recolher, ficar quietinho, para recarregar as energias, entender ou enxergar melhor uma situação quando buscam tranquilidade. Muitas pesquisas apontam que para sedimentarmos o aprendizado precisamos de tempo para descansar e assimilar o que aprendemos.

Para crianças pequenas, basta oferecer um canto acolhedor e estar presente em casa. Nossos pais e avós não tinham seus pais o tempo todo à disposição para sentar com eles ao chão e brincar por horas, nem para se dedicar a folguedos e brincadeiras quando estavam juntos. Se hoje os pais trabalham muito, os pais de antigamente não trabalhavam menos. Apenas a natureza do trabalho diferia. Nossas mães e avós trabalhavam muito dentro de casa, mas estavam ali, ao nosso simples alcance, o que nos dava serenidade e segurança, simplesmente por isso. E nossos pais e avôs trabalhavam muito, tanto quanto hoje, fora ou dentro do lar. Porém, por não disporem de tantas alternativas de lazer e nem dinheiro para isso, as famílias conviviam mais dentro de casa.

Além disso, tente se lembrar de com que idade foi permitido a você brincar na rua com outras crianças. A maioria dos indivíduos de nossa geração deve ter começado a brincar fora de casa após os sete anos. Antes disso, nossas mães não permitiam que saíssemos de casa ou do portão para fora. Essa permissão normalmente coincidia com a nossa entrada na escola, ou seja, ao final da primeira infância, por volta dos 7 anos naquela época, nunca antes. Porque hoje precisa ser diferente? Tínhamos a proteção e a segurança, necessárias para primeiro aprendermos noções básicas de partilha e de pertença, antes de buscarmos um grupo para brincar. E é assim que naturalmente ocorrem as coisas, e não forçando ou antecipando etapas.

Portanto, quanto mais carinho, presença e simples convívio doméstico, harmonioso, mais segura, tranqüila e pacífica uma criança irá crescer. Não são os modismos do consumo que irão oferecer a segurança emocional de que nossas crianças precisam, mas a paz interior de que todos nós prescindimos desde sempre.

Crianças das quais são retiradas essas substâncias desde pequenas crescerão inquietas, sem noção do outro, uma vez que não aprenderam a reconhecer a si próprias. Enfastiadas de convívio externo excessivo, extravasarão inconscientemente suas angústias e insatisfações no outro, perpetuando uma cultura de violência e individualismo, seja na escola ou outros espaços públicos, num mundo cada vez mais carente de uma cultura de paz.
 

domingo, 3 de junho de 2012

Redes Sociais : A nova socialização e as modificações comportamentais e subjetivas do ser humano contemporâneo


Introdução

Este artigo não se propõe a debater questões teológicas, muito menos espirituais, com isto, ele abordará dentro de aspectos sociológicos, históricos e psicológicos as transformações pelo qual o ser humano atual tem passado, apontando principalmente para as transformações subjetivas advindas das TIC´s (Tecnologias da Informação e Comunicação). Antes, através dos estudos levados a cabo por Simmel e Durkheim, serão demonstradas as modificações na interioridade humana provenientes do ambiente metropolitano da modernidade.

Revolução Urbano-Industrial

O sociólogo Georg Simmel, no livro ´´ A metrópole e a vida mental`` de 1902, apontou para o papel modificador que as metrópoles exerciam sobre os comportamentos e a subjetividade daqueles que experimentavam as modificações trazidas por estas novas estruturas sociais que se erguiam pós revolução industrial.

Para Simmel, alguns elementos psico-sociais surgiram neste novo ambiente social, como por exemplo:
·         o excesso de estímulos;
·         a divisão entre locais de trabalho e moradia;
·         a separação entre os domínios do público e do privado;
·         os diferentes círculos de conhecimento;
·         a racionalidade;
·         a frieza, o anonimato, a reserva, o isolamento, o cálculo, a mobilidade, a pontualidade  e etc.

Com esses elementos adentrando a nova configuração social, surgem novos comportamentos e  traços na subjetividade .

Tendo em vista a velha estrutura feudal, predominantemente rural, Simmel coloca que novos espaços colocam em operação novas necessidades, novas demandas, novas regras de produção, sociabilidade, sobrevivência. Como resultado de tudo isso, emergem novas formas de agir e de viver, que dão visibilidade aos processos de transformação das formas de ser.

Outro sociólogo que estudou a questão das transformações subjetivas, decorrentes do crescimento dos grandes centros urbanos foi Emile Durkheim.

Para ele, a sociedade industrial que gerou o ambiente metropolitano, tinha resumidamente as seguintes características:
·         A pluralidade;
·         A permissividade;
·         E uma menor coesão social.

Desta maneira, a nova estrutura social tinha perdido o seu poder de coersão e de inibição do desejo dos indivíduos, com isto promovendo uma maior liberdade individual, o qual pelo menos poderia ser algo  aparentemente  muito bom, porem como os estudos de Durkheim constataram, traziam consequências bastante negativas. Aquela que pode ser considerada a principal, dentro da perspectiva durkheimiana, é a anomia, ou a perda de referenciais concretos para se viver em um ambiente social harmônico, percebe-se aí, o surgimento da sociedade liquefeita de Bauman... mas voltando a Durkheim, é interessante  constatar que para o mesmo  a anomia, não deve ser lida como a grande promotora ou precursora de todos os desvios da sociedade, ela somente relaciona-se com as modificações que promovem crises de coesão social, isto é, quando as taxas de qualquer comportamento desvirtuado está acima dos valores, socialmente considerados, toleráveis numa determinada conjuntura específica. Só assim, deve- se  falar em anomia. Como foi o caso, do aumento das taxas de suicídios nas grandes cidades do período, em que ele viveu.

Revolução das Tecnologias da Informação e Comunicação

Estes dois sociólogos citados, não foram os únicos que enxergaram as transformações que tanto sociedade como seres humanos tiveram.  No passado e na atualidade há estudiosos, que  procuram ver e entender este novo sujeito, advindo da Revolução das Tecnologias da Informação e Comunicação .  A seguir, citarei o trabalho de quatro estudiosos.

A socióloga Helena Béjar, citada por Sibilia (in: O show do eu), na obra´´El ámbito íntimo: privacidad, individualismo y modernidad`` fez um amplo estudo a respeito das noções modernas de intimidade e privacidade, o qual foram sendo construidas paulatinamente a partir do século XVIII e XIX, que teem como constituidoras a alfabetização e o hábito de ler sem oralizar.  Prática e hábitos, notoriamente, modernos o qual desenvolveram o indivíduo mais isolado.

Outro pesquisador foi Marshal Mcluhan, filósofo canadense, que estudou as influências das mídias sobre as pessoas e através de suas obras, tais como ´´ A Galaxia de Gutemberg``, ´´Os Meios de Comunicação como extensões do homem``, ´´O meio é a mensagem`` entre outras obras, expressou,´´os homens criam as ferramentas, as ferramentas recriam os homens``, dizendo assim, que o ser humano é transformado a partir da ligação, que o mesmo tem, com os meios criados por ele próprio.Tendo como exemplo, as estradas, a energia elétrica, o telegrafo, o automóvel entre tantos outros meios criados pelo homem, que são citados por ele, como agentes modificadores não só da sociedade, mas da interioridade e do comportamento humano.

Paula Sibilia estudiosa de temas culturais contemporãneo, em seu livro ´´Show do eu``, discorre como a internet, através das redes sociais, tem feito as pessoas compreenderem que o conceito de intimidade, não é mais sinônimo de privacidade, lugar fechado, mas sim, de exposição, publicidade. Deixando a entender com isto, que aspectos subjetivos do ser humano estão se alterando.

Outra estudiosa sobre a transformação da subjetividade, Ana Maria Nicolaci-da-Costa, pesquisadora da área de Tecnologia e subjetividade, em seu livro de 1998 ´´Nas Malhas da Rede – Os impactos íntimos da internet``, confessava que não tinha como negar que a internet traria transformações nas pessoas. Se, elas seriam positivas ou negativas, somente o tempo, o distanciamento permitiria uma constatação verossímel .

Assim como a primeira Revolução Industrial fez nascer  um longo processo de mudanças da qual surgiu o homem moderno dos séculos XIX e XX, a Revolução da Tecnologia da Informação e Comunicação desencadeou um novo processo de transformações, ainda em curso, que está gerando o homem do século XXI.

Para encerrar deixo uma hipótese que fala sobre este novo tipo de subjetividade, desta época online:

´´Através dos Blogs, Vlogs, Microblogs e outras redes sociais o ato de escrever ou digitalizar o que há para ser digitalizado, tem se tornado uma linha de ruptura entre o indivíduo privado e o público; o indivíduo cronológico e o instantâneo e o indivíduo real e o fictício.``

Abraços
Elias

Bibliografia:

Nicolaci-da-Costa, Ana Maria. Nas malhas da rede – os impactos da internet. Rio de Janeiro. Campus. 1998
Mcluhan,Marshal. Os meios de comunicação como extensões do homem.São Paulo.Cultrix.2002
Sibilia, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 2008




segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Ecumenismo e os Meios de Comunicação


Em 23 de novembro de 2010, publiquei um artigo intitulado, ´´Uma análise sobre argumentos a favor do uso da internet na e para a Evangelização``parteIIhttp://midiaeclesia.blogspot.com.br/2010/11/uma-analise-sobre-argumentos-favor-do_23.htmll nele foram apresentados argumentos que as pessoas usavam para defender o uso da internet na evangelização. Após citar cada  argumento pró utilização da internet fiz classificações em padrões, para assim, tecer críticas aos mesmos.

Aparentemente, parece que o artigo faz pouco tempo que foi escrito, aproximadamente 18 meses, ou, um ano e meio, mas é interessante que a infuência da internet é mais forte do que se pode imaginar, pois seus efeitos como já eram esperados estão extrapolando até atingir meios de comunicação de massa, como por exemplo a Televisão.

Ao falar da Televisão, principalmente sobre os programas de auditório transmitidos em rede nacional, tem aparecido cada dia mais o ´´ecumenismo`` que mencionei dentro do artigo mencionado acima, estrelado e construído por cantores evangélicos e padres cantores. Leia, abaixo e veja se é ou não necessário que os filhos de Deus, entendam que não existe neutralidade nas tecnologias, principalmente aquelas ligadas a comunicação, pois segundo Heidegger, "Em todo lugar permanecemos sem liberdade e acorrentados à tecnologia, se nós a defendemos ou a negamos. Mas somos entregues a ela da pior maneira possível quando nós a encaramos como algo neutro; pois essa concepção sobre ela, à qual hoje gostamos particularmente de prestar homenagem, torna-nos totalmente cegos para a essência da tecnologia." E é importante também lembrar que é fundamental estudar e conhecer não somente os meios de comunicação em sua parte estrutural, mas como eles agem e influenciam as pessoas.

Parte do artigo ´´ Uma análise sobre argumentos a favor do uso da internet na e para a Evangelização`` parte II

Argumento pró utilização – Os defensores dizem:
´´A internet oferece um espaço de interlocução com homens e mulheres de outras crenças, que buscam a Deus, cultivam a espiritualidade e pautam sua existência pela ética. Alguns desses interlocutores manterão suas crenças, reconhecendo-se em sintonia com os cristãos na grande causa do BEM, e reforçarão sua fé e sua esperança. Para outros, será a oportunidade de descobrir uma face nova do evangelho e da Igreja, despertando o interesse de participar dela.

Padrão – O que surge desta defesa
A internet conduz a um ´´ecumenismo`` e ao discipulado light.

Crítica ao argumento – Qual a postura
O Jesus da Bíblia Sagrada, embora cheio de compaixão pelos pecadores,  que respeitava as pessoas não importando quem fossem,  e sempre aberto a todos que lhe procuravam para o conhecer mais de perto, não compactuava com a hipocrisia de determinadas pessoas de  grupos religiosos(Fariseus, Saduceus) e políticos (Herodes). Jesus, com certeza também conversaria com qualquer pessoa de qualquer religião ou doutrina diferente daquela que Ele ensinava, mas com certeza, deixaria bem claro para tais pessoas, que elas DEVERIAM ´´Nascer de Novo`` e que Ele é o único ´´Caminho, Verdade e a Vida`` e que ninguém ´´VEM ao Pai se não por Ele``. A igreja deve usar, se for o caso a internet, para consolidar os fundamentos do Evangelho e deixar bem claro, que estamos dispostos a conversar, mas não a desobedecer ao nosso Deus e Senhor Jesus Cristo, o qual é o mesmo, ontem, hoje e eternamente. Por fim é importante dizer que  as pessoas devem entrar  e permanecer nela (igreja) caso assim aceitarem, não meramente por suas propostas de ação e assistência social, nem por ser um lugar arquitetonicamente confortável, mas sim porque nela encontraram a Jesus. A igreja tem uma só face, e ela é de Jesus Cristo.``

Conclusão
Até quando aceitaremos sem um estudo crítico, com bases bíblicas e científicas a utilização dos meios de comunicação para transmitirmos o Evangelho de Jesus Cristo?

Abraço
Elias

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Pregação nas próximas gerações - O futuro das pregações frente a uma inserção, cada vez maior, das mídias digitais em reuniões cúlticas.


       Introdução
       O verdadeiro Cristianismo é a Fé na Pessoa de Jesus Cristo, como único Salvador e Senhor de nossas vidas e que tem como um dos seus pontos basilares a pregação (Kerigma).  Em Marcos 1:38-39, está escrito ´´Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue; porque para isso vim``; em Lucas 4:18-19 também é enfatizado o aspecto homilético do ministério de Jesus, ´´O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos e dar vista aos cegos; a por em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor``. Algo a se enfatizar quanto a pregação de Jesus é que sua mensagem não era algo meramente restrita ao discurso, a força de sua pregação era fortemente alicerçada por sua vida (Mt.7:29). Entretanto, sendo portador de uma mensagem simples, o Mestre utilizava-se  de uma complexa rede de recursos comunicacionais, tais como, a linguagem cheia de imaginação, raciocínio analógico, figuras de linguagem, contrastes, as possibilidades acústicas e etc.
Jesus, em todos os sentidos deixou exemplos, até mesmo na comunicação. Porém, as mudanças históricas e culturais pelo qual a igreja passou, fizeram com que a mesma começasse  a trabalhar de forma diferente em muitas áreas de sua atuação,   causando tambem alterações no âmbito técnico da homilia. E é isto que será colocado a seguir,  partindo da Idade Média.

1.      Uma síntese histórica da Pregação
1.1.A Pregação na Idade Média -  Após o período apostólico, a Igreja continuou  tendo em suas fileiras pessoas muito capacitadas na pregação do Evangelho.  No período chamado dos ´´Pais da igreja``,  muitos expoentes da pregação deram ao mundo palavras ungidas e profundas que, ainda hoje, podem ser pesquisadas pelos interessados; um destes foi  João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla(349-407), conhecido como ´´Boca de Ouro``, que com uma oratória impactante e um conteúdo profundo, impressionava a todos os que o ouviam. Passado estas duas épocas históricas aureas da pregação cristã,  o perído denominado  Idade Média, viu uma estagnação neste ministério tão importante da igreja, em algumas regiões, houve até mesmo um retrocesso nesta área.  Portanto, a  pregação clerical na Idade Média foi marcada pela falta de originalidade e  imprimiu nesta prática da liturgia cristã um costume de  repetir os sermões dos grandes padres do período anterior. A homilia — como discurso familiar, simples e íntimo — foi sendo substituida e  nos cultos  foi se  dando mais espaço para o aspecto sonelizado e  da espetacularização, o qual acabou  dominando toda a liturgia da igreja romana durante toda Idade Média. Foi neste período, que surgiram duas escolas de pregação medievais, a escola escolástica e a mística ou mendicante, a primeira  voltada para os templos e para as nascentes universidades e a outra,  para o ar livre. Assim sendo, segundo Ramos ´´na Idade Média, portanto, enquanto a homilética era enriquecida pela prática mística das ordens mendicantes que  pregavam nas cidades e nos  campos, era empobrecida pelos abstratos discursos proferidos dos suntuosos  púlpitos das catedrais. Enquanto, em alguns setores da hierarquia eclesiástica,  a prédica conquistava as luzes da razão, o fervor místico dos pregadores mendicantes se encarregava de manter a porta dos fundos abertas para a passagem livre da superstição e da experiência religiosa emocional (por vias afetivas) e sensacional (por vias sensoriais).``

1.2.A Pregação no Período da Reforma Protestante -  Se a Idade Média, não aperfeiçou a arte homilética, apenas teve  uns momentos de lampejo aqui e ali, com nomes como  Domingos, Francisco de Assis, Tomás de Aquino , Pedro Valdo e outros.  No período chamado de Reforma Protestante houve um retorno e até mesmo um avanço na pregação do Evangelho.
Neste período, aconteceu uma  “troca de meios``,  pois “enquanto  na Igreja medieval o sacramento, a celebração simbólica, eram entendidos como meio de apropriação da salvação”, com a  Reforma é a Palavra falada da prédica evangélica que é colocada no centro e assume essa função  de meio, portador, proclamador da salvação (Rm.10:07).
A identidade homilética medieval foi marcada principalmente pelo aspecto visual, com seus suntuosos e elevados púlpitos, já a homilética reformada foi caracterizada pelo traje, com a substituição da indumentária sacerdotal pelos trajes acadêmicos. Segundo Ramos,´´ Ulrico Zwinglio teria sido o primeiro a introduzir o uso da toga acadêmica chamada schaube, em Zürich, durante o outono de 1523 e Martinho Lutero teria adotado o shaube no dia 9 de outubro de 1524, substituindo definitivamente seu hábito e capelo monacais.``

A Pregação Reformada, foi marcada pelos seguintes aspectos:
(1) A primazia da palavra oral;
(2)  A Palavra de Deus deve consolar e libertar a consciência moral do ser humano,
por meio da prédica evangélica;
(3) Somente a Cristo se deve pregar (solus Christus praedicandus);
(4) A Pregação da Palavra se destina à pessoa de forma individual;
(5) Pregação acentuadamente auditiva, lingüística e menos visual.

1.3.A Pregação nos Tempos das Missões Modernas -  Quando as diferenças entre igreja Protestante e Católica estão bem delimitadas, surge um período de fervor missionário dentro da igreja, principalmente na Protestante, impulsionada pelas pregações de cunho  evangelístico e de avivamento dos irmãos morávios, metodistas e avivalistas norte americanos.  A mensagem levada aos campos estrangeiros apresentava uma  forma que em aspectos gerais, é  mais próxima da pregação emocional das ordens mendicantes da Idade Média e voltada para aspectos sociais, lembrando um pouco a mensagem dos profetas vetero-testamentários. O discurso continua  sendo mais oral e menos visual.

1.4.A Pregação no Século XX - Durante o século XX, alguns aspectos podem ser mencionados sobre o conteúdo e a forma da pregação, por exemplo:
O avivalista ou carismático e o social.
A mensagem avivalista é notoriamente emotiva e sensorial, envolvida por um ambiente altamente espiritualizado.  Já o social é mais racional e pragmático.
Com isto, a forma homilética destes dois movimentos podem ser caracterizados da seguinte forma:
O avivalista geralmente, mas não necessariamente, trabalha com sermões temáticos, a mudança na tonalidade da voz é muito comum, um período do sermão é dedicado a manifestações de dons e carismas, há o uso de muitos gestos corporais e a utilização de chavões, clichês e se possível,  de exemplos que estimulem o sentido da visão.   Já a pregação de caráter social é menos mística, voltada principalmente para a razão e é mais oral.

1.5.A Pregação na Idade das Mídias -  A virada tanto do século como do milênio, trouxe profundas transformações na pregação do Evangelho. As Mídias de Massa e Digital teem exercido  este poder de transformação na Pregação do Evangelho, é bom frisar que cada uma destas mídias tem sua própria especificidade, e por isto mesmo possui seu próprio padrão de transmissão. Como a tendência é da ampliação na transmissão via digital, será comentado somente alguns aspectos referentes às tecnologias digitais.
Neste novo ambiente de comunicação, a pregação para ser efetivamente apropriada para o meio é,  e deverá  ser amparada por muita visualidade, falas curtas e diretas e muito conteúdo que se modifica a todo instante, a fim de que as pessoas fiquem conectadas o maior tempo possível,  além de se apelar para uma maior interatividade durante a pregação. Ainda, é bom frisar que com a inserção das inovações tecnológicas no  ambiente cúltico, a utilização de projetores de imagens, também vem modificar a metodologia da pregação como pode ser visto no exemplo dado pela igreja coreana.

2.      A igreja da Coréia (um exemplo a ser seguido?!) - Ao falar sobre igreja e suas ligações com as mídias digitais, não tem como deixar de fora, a igreja local que mais tem se colocado na vanguarda das inovações tecnológicas.  Na  igreja Yoido Full Gospel  em Seul, Coréia do Sul, a igreja do Pr.David Yonggi Cho, as pregações   são acompanhadas de cenas alusivas ao que está sendo  falado, assim são projetadas cenas de filmes, imagens em duas telas de plasma com dimensões de fazer inveja ao mais moderno dos cinemas; há  ainda dezenas de telas menores espalhadas pelos cinco pisos do templo gigantesco de Seul, tudo isto  acompanhado por uma trilha sonora e diante de uma enorme cruz fixada, de luz de neon, no centro do altar; os fiéis e os visitantes do templo teem acesso a fones de ouvidos com diversas opções de idiomas para acompanhar as pregações. Pelo jeito,  os coreanos  já se apropriaram de alguns ensinos psicológicos acerca dos estímulos provenientes das telas, que dizem que quanto mais forte e estimulante for a experiência, juntando som, imagem, e outras sensações mais envolvente ela será, e   melhor a sua retenção e compreensão. Para completar o grande envolvimento midiático do Tempo do Dr. Cho, existem  cerca de 200 câmeras, que geram imagens, em tempo real e por diferentes ângulos, para sites e canais de televisão. 

3.      A Pregação e as Novas Mídias (presenciais e a distância) -  A inserção de meios eletrônicos-digitais na  e para transmissão do Evangelho, já tem feito nascer, mesmo que de forma embrionária:

3.1.Uma pregação que prioriza o visual em detrimento do oral, por isto  o caráter de show das pregações deste 2º milênio;

3.2. Uma exigência de  conhecimento e  atenção  mais técnica na transmissão do Evangelho, pois a preocupação não será tanto com o auditório e sim com o meio (cheio de padrões e exigências) que leva o conteúdo àqueles que estão presentes no auditório, como para os que acessam via internet, e isto pode ser chamado de ´´preocupação midiática``;

3.3. Uma pregação que tende a expandir-se tanto no sentido do tempo cronológico  quanto na extensão geográfica, pois  já pode ser acessada após os cultos, comentada e divulgada pelas redes sociais;

3.4. Uma pregação, que provavelmente, pode tornar-se uma peça a mais no grande esquema da midiatização eclesiática, um produto  dentre os demais recursos oferecidos para os internautas, isto, devido as múltiplas oportunidades concedidas pelos dispositivos do  meio digital;  

3.5. A pregação midiatizada tornar-se-á cada vez mais cheia de ilustrações visuais, os sermões com ilustrações para utilização da imaginação será mais restrito a grupos ´´antigos``, pois as novas gerações perderão cada vez mais a capacidade de imaginar atraves do que se está sendo  apenas falado,  já que desde pequeninos, sempre terão imagens, enxendo o campo visual e os pensamentos deles.

Abraços
Elias
Fontes:

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A Arte da Retórica para o Auditório e para o Público multi-sensórial

Caracterização de Retórica:
Partindo do pensamento aristotélico, foi a argumentação persuasiva como  processo ideal em resolver ou superar divergências na polis grega, por isto é caracterizada como o ´´saber encontrar caminhos possíveis para persuadir (convencer)  as pessoas sobre qualquer assunto dado`` . Segundo Chaui , que entende a retórica como uma arte,  ´´ o objeto fundamental da retórica é o mover, comover, promover paixões, usá-las para fins da persuasão, suscitando no ouvinte medo, cólera, ódio, amor, piedade, tristeza, alegria, generosidade, inveja, etc.``

Áreas em que a persuasão retórica é utilizada
Atualmente, as pessoas usam a persuasão retórica em todos os âmbitos da vida humana, não só no político, mas no social (educação, trabalho,etc.), econômico, cultural, científico, religioso e etc.

Esquemas retóricos

1.       O esquema da retórica Aristotélica













O esquema da retórica das Mídias de Massa e Digital














A cor dos esquemas foi proposital

A retórica Aristotélica, baseia-se no esquema triangular:
1º - No caráter do orador, que deve buscar a construção de uma opinião favorável dos seus ouvintes a seu respeito;
2º - Nas paixões dos ouvintes, o qual devem crescer para servir de base para a persuasão;
3º - Na mensagem, ou melhor, na força do argumento empregado que pode ser, ´´pelo exemplo e discurso servido de algumas poucas premissas e pela conclusão, sem que o ouvinte precise pensar sobre o que o orador não apresentou``.

A retórica baseada nas Mídias opera no esquema de um quadrado
A retórica baseada nas Mídias acrescenta mais um elemento, os meios.  Segundo Postman, quando um dado animal é inserido em outro ambiente que não o seu de origem, ele não chega simplesmente para ser acrescentado ao novo ecossistema,  vem para alterar completamente o mesmo. Isto, é apresentado como uma ilustração da inserção dos meios de comunicação em áreas antes não influenciadas por eles, ou seja,  as mídias não são meros elementos adicionados aos ambientes. Mas, são instrumentos da comunicação que intervém e refazem as relações entre os outros elementos da retórica. Tudo se altera substancialmente devido as mídias, tanto o orador quanto a mensagem, e até o público multi-sensório.  Por que público multi-sensório? Porque o tal para apropriar-se da mensagem daqui para frente, e este é um caminho sem retorno, usará não apenas a visão e a audição, mas o olfato e outros sentidos para apropriarem-se das mensagens veiculadas pelas mídias híbridas dos dias atuais, pois os aparelhos de televisão não são e não mais serão instrumentos rígidos de comunicação; atualmente,a maior parte dos fabricados  vem com acesso a internet e softwares que ampliam a interação simultânea entre telespectadores e emissoras, e muito em breve elas virão com programas sofisticados que permitem uma maior paticipação sensória dos mesmos com aquilo que está sendo transmitido pela tela.

As audiências da Arte da retórica
Neste artigo, uso o termo auditório referindo as seguintes caracerísticas:
·         Auditório compartilha com o orador o mesmo espaço físico;
·         Auditório compartilha o mesmo tempo cronológico com o orador;
·         Auditório é composto de pessoas físicas, reais;
·         Auditório significa que a espaço físico e tempo cronológico possuem simultaneidade e unidade;
·         Auditório possui diversidade de pessoas quanto a sexo, idade,condição social;
·         Auditório possui diversidade, quanto ao espaço onde está localizado (sala, praça, teatro, igreja, ao as livre,etc.), quanto ao tempo cronológico em que ele pode ser formado (período matutino, vespertino ou noturno);
·         Auditório tem uma finalidade, carrega em si o aspecto teleológico,  sempre terá como finalidade ao reunir-se, o observar e ou decidir sobre algo.

A retórica utilizada no auditório é a presencial, que permite:
1.       Um desenvolvimento de técnicas de oratória persuasiva por parte do orador, dependendo do tipo de pessoa presente no auditório;
2.       Uma disposíção anímica (Lt.animus=alma) das pessoas para um mesmo tipo de pensamento, pois pelo seu caráter gregário o ser humano procura aceitar o que lhe  permite uma maior integração social;
3.       Um julgamento das intenções e caráter do orador a partir daquilo que é enunciado e visto pelo auditório;
4.       Um  destaque ao discurso e não para a  imagem.

Tendências da retórica utilizada para o público multi-sensório  através da retórica midiatizada daqui para frente :
1.       Um distanciamento tanto físico como cronológico entre o orador e as pessoas, a distância sucederá a proximidade;
2.       Um acréscimo das técnicas comunicacionais para persuadir as pessoas, principalmente aquelas que utilizam recursos como o Power Point, repleto de imagens, filmes, músicas e tc.;
3.       Uma maior exploração da imagem do orador, trabalhada principalmente pela indústria midiática e agentes publicitários;
4.       Uma ampliação da mensagem através dos meios de comunicação de massa e das redes sociais, através dos comentários e respostas;
5.       Uma maior utilização de efeitos sensoriais na transmissão da mensagem;
6.       Uma maior liberdade de reflexão para o público, o que se torna uma espada de dois gumes, pois possibilitará ao mensageiro e ao público maior poder de crítica;
7.       Quanto ao conteúdo, haverá uma maior chance do público não ouvir o que contem a  mensagem, mas sim dar atenção ao que se vê, pois o que os olhos enxergam na tela, poderá ser diferente daquilo que é falado pelo orador, como por exemplo, caso um orador afirmar algo e ao mesmo tempo for mostrado na tela alguém (com a cabeça) meneando contrariamente, negando, possivelmente as pessoas prestarão mais atenção à negação do que a afirmação;
8.       Quanto a relação público x mensageiro, a decisão e o julgamento de quem ouve acabará por incidir mais sobre quem, do que sobre aquilo que se fala. Preste atenção ao que estamos vendo nas mídias, em relação aos tele evangelistas;
9.       A mensagem nas novas mídias carregará consigo múltiplos autores, pelo que  será muito difícil sua credibilidade;
10.   O discurso oral e persuasivo será substituido pelo discurso escrito da informação via sites, blogs e outras redes sociais e pelos vídeos. Por ser uma mídia muito complexa, o mensageiro tomará muito mais cuidado ao pronunciar sua mensagem e a maneira mais segura para isso, será tendo um texto em suas mãos e editando aquilo que produz para ser transmitido via online.
11.   O público midiático já é desatento, e tornar-se-á cada vez menos ao conteúdo da mensagem. Na mensagem midiática são muitos os  fatores  que estão presentes e apelam (ao mesmo tempo) na transmissão por telas, sem cessar à atenção, provocando enorme dispersão.

Implicações
Primeiro com a proliferação da imprensa, segundo dos meios de comunicação em massa e atualmente pelas mídias digitais, quem tiver maior acesso, usar, dominar e continuamente inovar nos meios de comunicação digitais disporá de uma importante e gigantesca vantagem para influenciar as pessoas. Assim sendo, o acesso aos meios de comunicação nos dias atuais e daqui para frente será indispensável a qualquer mensageiro que queira realmente persuadir todos aqueles que terão acesso às suas mensagens, via telas. Entretanto, os meios digitais são, gostando ou não, condição de um exercício retórico verdadeiramente influenciador . Até mesmo hoje em dia, o chamado auditório presencial, o controle  do meios de ampliação sonora, como os microfones é decisivo. Atualmente, se por exemplo for desligado o microfone de um mensageiro, ele ficará sem condições de prosseguir o discurso. E isto é algo muito simples. Mas o acesso aos meios de comunicação tanto de massa como  digitais, fará com que o mensageiro tenha não somente acesso a um público maior, mas também terá a possibilidade de influencia-los de uma maneira muito mais abrangente.

Portanto, sem os meios o orador não se fará ouvir; para isso ele deverá buscar ter acesso  aos mesmos, sendo assim, buscar  novos meios de comunicação é uma das suas tarefas principais. Mas isto envolverá grandes riscos. Primeiro, porque qualquer meio, pela sua própria natureza, irá enquadrar o orador,  não oferecendo autonomia para ser ele mesmo, pois o padrão exigido e determinado pela tela faz com que aquele que é levado pelas ondas de sua imagem adapte-se  às necessidades da transmissão. Segundo, as mídias de tela  impõem uma intervenção nas  estratégias do mensageiro, que terá uma luta com o ambiente ´´poluído`` que cerca as mídias digitais (e-mails, conversas onlines, mensagens que chegam sempre via redes sociais, etc.). Terceiro, a utilização das mídias pelo mensageiro exigirá sempre a  necessidade do mesmo avaliar as condições e os custos em que essa utilização é realizada.

Assim sendo, é importante encerrar afirmando que longe dos meios, tanto de massa como digitais serem um elemento secundário na mensagem retórica, eles são o elemento determinante. Para Aristóteles, o auditório era o elemento chave, hoje são os meios que formam os públicos.

Abraços


·         Chaui, Marilena. Introdução a História da Filosofia, Ed. Brasiliense,São Paulo,1994