domingo, 3 de junho de 2012

Redes Sociais : A nova socialização e as modificações comportamentais e subjetivas do ser humano contemporâneo


Introdução

Este artigo não se propõe a debater questões teológicas, muito menos espirituais, com isto, ele abordará dentro de aspectos sociológicos, históricos e psicológicos as transformações pelo qual o ser humano atual tem passado, apontando principalmente para as transformações subjetivas advindas das TIC´s (Tecnologias da Informação e Comunicação). Antes, através dos estudos levados a cabo por Simmel e Durkheim, serão demonstradas as modificações na interioridade humana provenientes do ambiente metropolitano da modernidade.

Revolução Urbano-Industrial

O sociólogo Georg Simmel, no livro ´´ A metrópole e a vida mental`` de 1902, apontou para o papel modificador que as metrópoles exerciam sobre os comportamentos e a subjetividade daqueles que experimentavam as modificações trazidas por estas novas estruturas sociais que se erguiam pós revolução industrial.

Para Simmel, alguns elementos psico-sociais surgiram neste novo ambiente social, como por exemplo:
·         o excesso de estímulos;
·         a divisão entre locais de trabalho e moradia;
·         a separação entre os domínios do público e do privado;
·         os diferentes círculos de conhecimento;
·         a racionalidade;
·         a frieza, o anonimato, a reserva, o isolamento, o cálculo, a mobilidade, a pontualidade  e etc.

Com esses elementos adentrando a nova configuração social, surgem novos comportamentos e  traços na subjetividade .

Tendo em vista a velha estrutura feudal, predominantemente rural, Simmel coloca que novos espaços colocam em operação novas necessidades, novas demandas, novas regras de produção, sociabilidade, sobrevivência. Como resultado de tudo isso, emergem novas formas de agir e de viver, que dão visibilidade aos processos de transformação das formas de ser.

Outro sociólogo que estudou a questão das transformações subjetivas, decorrentes do crescimento dos grandes centros urbanos foi Emile Durkheim.

Para ele, a sociedade industrial que gerou o ambiente metropolitano, tinha resumidamente as seguintes características:
·         A pluralidade;
·         A permissividade;
·         E uma menor coesão social.

Desta maneira, a nova estrutura social tinha perdido o seu poder de coersão e de inibição do desejo dos indivíduos, com isto promovendo uma maior liberdade individual, o qual pelo menos poderia ser algo  aparentemente  muito bom, porem como os estudos de Durkheim constataram, traziam consequências bastante negativas. Aquela que pode ser considerada a principal, dentro da perspectiva durkheimiana, é a anomia, ou a perda de referenciais concretos para se viver em um ambiente social harmônico, percebe-se aí, o surgimento da sociedade liquefeita de Bauman... mas voltando a Durkheim, é interessante  constatar que para o mesmo  a anomia, não deve ser lida como a grande promotora ou precursora de todos os desvios da sociedade, ela somente relaciona-se com as modificações que promovem crises de coesão social, isto é, quando as taxas de qualquer comportamento desvirtuado está acima dos valores, socialmente considerados, toleráveis numa determinada conjuntura específica. Só assim, deve- se  falar em anomia. Como foi o caso, do aumento das taxas de suicídios nas grandes cidades do período, em que ele viveu.

Revolução das Tecnologias da Informação e Comunicação

Estes dois sociólogos citados, não foram os únicos que enxergaram as transformações que tanto sociedade como seres humanos tiveram.  No passado e na atualidade há estudiosos, que  procuram ver e entender este novo sujeito, advindo da Revolução das Tecnologias da Informação e Comunicação .  A seguir, citarei o trabalho de quatro estudiosos.

A socióloga Helena Béjar, citada por Sibilia (in: O show do eu), na obra´´El ámbito íntimo: privacidad, individualismo y modernidad`` fez um amplo estudo a respeito das noções modernas de intimidade e privacidade, o qual foram sendo construidas paulatinamente a partir do século XVIII e XIX, que teem como constituidoras a alfabetização e o hábito de ler sem oralizar.  Prática e hábitos, notoriamente, modernos o qual desenvolveram o indivíduo mais isolado.

Outro pesquisador foi Marshal Mcluhan, filósofo canadense, que estudou as influências das mídias sobre as pessoas e através de suas obras, tais como ´´ A Galaxia de Gutemberg``, ´´Os Meios de Comunicação como extensões do homem``, ´´O meio é a mensagem`` entre outras obras, expressou,´´os homens criam as ferramentas, as ferramentas recriam os homens``, dizendo assim, que o ser humano é transformado a partir da ligação, que o mesmo tem, com os meios criados por ele próprio.Tendo como exemplo, as estradas, a energia elétrica, o telegrafo, o automóvel entre tantos outros meios criados pelo homem, que são citados por ele, como agentes modificadores não só da sociedade, mas da interioridade e do comportamento humano.

Paula Sibilia estudiosa de temas culturais contemporãneo, em seu livro ´´Show do eu``, discorre como a internet, através das redes sociais, tem feito as pessoas compreenderem que o conceito de intimidade, não é mais sinônimo de privacidade, lugar fechado, mas sim, de exposição, publicidade. Deixando a entender com isto, que aspectos subjetivos do ser humano estão se alterando.

Outra estudiosa sobre a transformação da subjetividade, Ana Maria Nicolaci-da-Costa, pesquisadora da área de Tecnologia e subjetividade, em seu livro de 1998 ´´Nas Malhas da Rede – Os impactos íntimos da internet``, confessava que não tinha como negar que a internet traria transformações nas pessoas. Se, elas seriam positivas ou negativas, somente o tempo, o distanciamento permitiria uma constatação verossímel .

Assim como a primeira Revolução Industrial fez nascer  um longo processo de mudanças da qual surgiu o homem moderno dos séculos XIX e XX, a Revolução da Tecnologia da Informação e Comunicação desencadeou um novo processo de transformações, ainda em curso, que está gerando o homem do século XXI.

Para encerrar deixo uma hipótese que fala sobre este novo tipo de subjetividade, desta época online:

´´Através dos Blogs, Vlogs, Microblogs e outras redes sociais o ato de escrever ou digitalizar o que há para ser digitalizado, tem se tornado uma linha de ruptura entre o indivíduo privado e o público; o indivíduo cronológico e o instantâneo e o indivíduo real e o fictício.``

Abraços
Elias

Bibliografia:

Nicolaci-da-Costa, Ana Maria. Nas malhas da rede – os impactos da internet. Rio de Janeiro. Campus. 1998
Mcluhan,Marshal. Os meios de comunicação como extensões do homem.São Paulo.Cultrix.2002
Sibilia, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 2008




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