Introdução
Este artigo não se propõe a debater questões teológicas,
muito menos espirituais, com isto, ele abordará dentro de aspectos
sociológicos, históricos e psicológicos as transformações pelo qual o ser
humano atual tem passado, apontando principalmente para as transformações
subjetivas advindas das TIC´s (Tecnologias da Informação e Comunicação). Antes,
através dos estudos levados a cabo por Simmel e Durkheim, serão demonstradas as
modificações na interioridade humana provenientes do ambiente metropolitano da
modernidade.
Revolução Urbano-Industrial
O sociólogo Georg Simmel, no livro ´´ A metrópole e a vida
mental`` de 1902, apontou para o papel modificador que as metrópoles exerciam
sobre os comportamentos e a subjetividade daqueles que experimentavam as
modificações trazidas por estas novas estruturas sociais que se erguiam pós
revolução industrial.
Para Simmel, alguns elementos psico-sociais surgiram neste
novo ambiente social, como por exemplo:
·
o
excesso de estímulos;
·
a
divisão entre locais de trabalho e moradia;
·
a
separação entre os domínios do público e do privado;
·
os
diferentes círculos de conhecimento;
·
a
racionalidade;
·
a
frieza, o anonimato, a reserva, o isolamento, o cálculo, a mobilidade, a
pontualidade e etc.
Com esses elementos adentrando a nova configuração social,
surgem novos comportamentos e traços na
subjetividade .
Tendo em vista a velha estrutura feudal, predominantemente
rural, Simmel coloca que novos espaços colocam em operação novas necessidades,
novas demandas, novas regras de produção, sociabilidade, sobrevivência. Como
resultado de tudo isso, emergem novas formas de agir e de viver, que dão
visibilidade aos processos de transformação das formas de ser.
Outro sociólogo que estudou a questão das transformações
subjetivas, decorrentes do crescimento dos grandes centros urbanos foi Emile
Durkheim.
Para ele, a sociedade industrial que gerou o ambiente
metropolitano, tinha resumidamente as seguintes características:
·
A
pluralidade;
·
A
permissividade;
·
E
uma menor coesão social.
Desta maneira, a nova estrutura social tinha perdido o seu
poder de coersão e de inibição do desejo dos indivíduos, com isto promovendo
uma maior liberdade individual, o qual pelo menos poderia ser algo aparentemente
muito bom, porem como os estudos de Durkheim constataram, traziam
consequências bastante negativas. Aquela que pode ser considerada a principal,
dentro da perspectiva durkheimiana, é a anomia, ou a perda de referenciais
concretos para se viver em um ambiente social harmônico, percebe-se aí, o
surgimento da sociedade liquefeita de Bauman... mas voltando a Durkheim, é
interessante constatar que para o
mesmo a anomia, não deve ser lida como a
grande promotora ou precursora de todos os desvios da sociedade, ela somente
relaciona-se com as modificações que promovem crises de coesão social, isto é,
quando as taxas de qualquer comportamento desvirtuado está acima dos valores,
socialmente considerados, toleráveis numa determinada conjuntura específica. Só
assim, deve- se falar em anomia. Como
foi o caso, do aumento das taxas de suicídios nas grandes cidades do período,
em que ele viveu.
Revolução das Tecnologias da Informação e Comunicação
Estes dois sociólogos citados, não foram os únicos que
enxergaram as transformações que tanto sociedade como seres humanos tiveram. No passado e na atualidade há estudiosos,
que procuram ver e entender este novo
sujeito, advindo da Revolução das Tecnologias da Informação e Comunicação . A seguir, citarei o trabalho de quatro
estudiosos.
A socióloga Helena Béjar, citada por Sibilia (in: O show do
eu), na obra´´El ámbito íntimo: privacidad,
individualismo y modernidad`` fez um amplo estudo a respeito das noções
modernas de intimidade e privacidade, o qual foram sendo construidas
paulatinamente a partir do século XVIII e XIX, que teem como constituidoras a
alfabetização e o hábito de ler sem oralizar. Prática e hábitos, notoriamente, modernos o
qual desenvolveram o indivíduo mais isolado.
Outro pesquisador foi Marshal Mcluhan, filósofo canadense,
que estudou as influências das mídias sobre as pessoas e através de suas obras,
tais como ´´ A Galaxia de Gutemberg``, ´´Os Meios de Comunicação como extensões
do homem``, ´´O meio é a mensagem`` entre outras obras, expressou,´´os homens
criam as ferramentas, as ferramentas recriam os homens``, dizendo assim, que o
ser humano é transformado a partir da ligação, que o mesmo tem, com os meios
criados por ele próprio.Tendo como exemplo, as estradas, a energia elétrica, o
telegrafo, o automóvel entre tantos outros meios criados pelo homem, que são
citados por ele, como agentes modificadores não só da sociedade, mas da
interioridade e do comportamento humano.
Paula Sibilia estudiosa de temas culturais contemporãneo, em
seu livro ´´Show do eu``, discorre como a internet, através das redes sociais,
tem feito as pessoas compreenderem que o conceito de intimidade, não é mais
sinônimo de privacidade, lugar fechado, mas sim, de exposição, publicidade.
Deixando a entender com isto, que aspectos subjetivos do ser humano estão se
alterando.
Outra estudiosa sobre a transformação da subjetividade, Ana
Maria Nicolaci-da-Costa, pesquisadora da área de Tecnologia e subjetividade, em
seu livro de 1998 ´´Nas Malhas da Rede – Os impactos íntimos da internet``,
confessava que não tinha como negar que a internet traria transformações nas
pessoas. Se, elas seriam positivas ou negativas, somente o tempo, o
distanciamento permitiria uma constatação verossímel .
Assim como a primeira Revolução Industrial fez nascer um longo processo de mudanças da qual surgiu
o homem moderno dos séculos XIX e XX, a Revolução da Tecnologia da Informação e
Comunicação desencadeou um novo processo de transformações, ainda em curso, que
está gerando o homem do século XXI.
Para encerrar deixo uma hipótese que fala sobre este novo
tipo de subjetividade, desta época online:
´´Através dos Blogs, Vlogs, Microblogs e outras redes sociais
o ato de escrever ou digitalizar o que há para ser digitalizado, tem se tornado
uma linha de ruptura entre o indivíduo privado e o público; o indivíduo
cronológico e o instantâneo e o indivíduo real e o fictício.``
Abraços
Elias
Bibliografia:
Nicolaci-da-Costa, Ana
Maria. Nas malhas da rede – os impactos da internet. Rio de Janeiro. Campus.
1998
Mcluhan,Marshal. Os
meios de comunicação como extensões do homem.São Paulo.Cultrix.2002
Sibilia, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 2008
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