sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Pregação nas próximas gerações - O futuro das pregações frente a uma inserção, cada vez maior, das mídias digitais em reuniões cúlticas.


       Introdução
       O verdadeiro Cristianismo é a Fé na Pessoa de Jesus Cristo, como único Salvador e Senhor de nossas vidas e que tem como um dos seus pontos basilares a pregação (Kerigma).  Em Marcos 1:38-39, está escrito ´´Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue; porque para isso vim``; em Lucas 4:18-19 também é enfatizado o aspecto homilético do ministério de Jesus, ´´O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos e dar vista aos cegos; a por em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor``. Algo a se enfatizar quanto a pregação de Jesus é que sua mensagem não era algo meramente restrita ao discurso, a força de sua pregação era fortemente alicerçada por sua vida (Mt.7:29). Entretanto, sendo portador de uma mensagem simples, o Mestre utilizava-se  de uma complexa rede de recursos comunicacionais, tais como, a linguagem cheia de imaginação, raciocínio analógico, figuras de linguagem, contrastes, as possibilidades acústicas e etc.
Jesus, em todos os sentidos deixou exemplos, até mesmo na comunicação. Porém, as mudanças históricas e culturais pelo qual a igreja passou, fizeram com que a mesma começasse  a trabalhar de forma diferente em muitas áreas de sua atuação,   causando tambem alterações no âmbito técnico da homilia. E é isto que será colocado a seguir,  partindo da Idade Média.

1.      Uma síntese histórica da Pregação
1.1.A Pregação na Idade Média -  Após o período apostólico, a Igreja continuou  tendo em suas fileiras pessoas muito capacitadas na pregação do Evangelho.  No período chamado dos ´´Pais da igreja``,  muitos expoentes da pregação deram ao mundo palavras ungidas e profundas que, ainda hoje, podem ser pesquisadas pelos interessados; um destes foi  João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla(349-407), conhecido como ´´Boca de Ouro``, que com uma oratória impactante e um conteúdo profundo, impressionava a todos os que o ouviam. Passado estas duas épocas históricas aureas da pregação cristã,  o perído denominado  Idade Média, viu uma estagnação neste ministério tão importante da igreja, em algumas regiões, houve até mesmo um retrocesso nesta área.  Portanto, a  pregação clerical na Idade Média foi marcada pela falta de originalidade e  imprimiu nesta prática da liturgia cristã um costume de  repetir os sermões dos grandes padres do período anterior. A homilia — como discurso familiar, simples e íntimo — foi sendo substituida e  nos cultos  foi se  dando mais espaço para o aspecto sonelizado e  da espetacularização, o qual acabou  dominando toda a liturgia da igreja romana durante toda Idade Média. Foi neste período, que surgiram duas escolas de pregação medievais, a escola escolástica e a mística ou mendicante, a primeira  voltada para os templos e para as nascentes universidades e a outra,  para o ar livre. Assim sendo, segundo Ramos ´´na Idade Média, portanto, enquanto a homilética era enriquecida pela prática mística das ordens mendicantes que  pregavam nas cidades e nos  campos, era empobrecida pelos abstratos discursos proferidos dos suntuosos  púlpitos das catedrais. Enquanto, em alguns setores da hierarquia eclesiástica,  a prédica conquistava as luzes da razão, o fervor místico dos pregadores mendicantes se encarregava de manter a porta dos fundos abertas para a passagem livre da superstição e da experiência religiosa emocional (por vias afetivas) e sensacional (por vias sensoriais).``

1.2.A Pregação no Período da Reforma Protestante -  Se a Idade Média, não aperfeiçou a arte homilética, apenas teve  uns momentos de lampejo aqui e ali, com nomes como  Domingos, Francisco de Assis, Tomás de Aquino , Pedro Valdo e outros.  No período chamado de Reforma Protestante houve um retorno e até mesmo um avanço na pregação do Evangelho.
Neste período, aconteceu uma  “troca de meios``,  pois “enquanto  na Igreja medieval o sacramento, a celebração simbólica, eram entendidos como meio de apropriação da salvação”, com a  Reforma é a Palavra falada da prédica evangélica que é colocada no centro e assume essa função  de meio, portador, proclamador da salvação (Rm.10:07).
A identidade homilética medieval foi marcada principalmente pelo aspecto visual, com seus suntuosos e elevados púlpitos, já a homilética reformada foi caracterizada pelo traje, com a substituição da indumentária sacerdotal pelos trajes acadêmicos. Segundo Ramos,´´ Ulrico Zwinglio teria sido o primeiro a introduzir o uso da toga acadêmica chamada schaube, em Zürich, durante o outono de 1523 e Martinho Lutero teria adotado o shaube no dia 9 de outubro de 1524, substituindo definitivamente seu hábito e capelo monacais.``

A Pregação Reformada, foi marcada pelos seguintes aspectos:
(1) A primazia da palavra oral;
(2)  A Palavra de Deus deve consolar e libertar a consciência moral do ser humano,
por meio da prédica evangélica;
(3) Somente a Cristo se deve pregar (solus Christus praedicandus);
(4) A Pregação da Palavra se destina à pessoa de forma individual;
(5) Pregação acentuadamente auditiva, lingüística e menos visual.

1.3.A Pregação nos Tempos das Missões Modernas -  Quando as diferenças entre igreja Protestante e Católica estão bem delimitadas, surge um período de fervor missionário dentro da igreja, principalmente na Protestante, impulsionada pelas pregações de cunho  evangelístico e de avivamento dos irmãos morávios, metodistas e avivalistas norte americanos.  A mensagem levada aos campos estrangeiros apresentava uma  forma que em aspectos gerais, é  mais próxima da pregação emocional das ordens mendicantes da Idade Média e voltada para aspectos sociais, lembrando um pouco a mensagem dos profetas vetero-testamentários. O discurso continua  sendo mais oral e menos visual.

1.4.A Pregação no Século XX - Durante o século XX, alguns aspectos podem ser mencionados sobre o conteúdo e a forma da pregação, por exemplo:
O avivalista ou carismático e o social.
A mensagem avivalista é notoriamente emotiva e sensorial, envolvida por um ambiente altamente espiritualizado.  Já o social é mais racional e pragmático.
Com isto, a forma homilética destes dois movimentos podem ser caracterizados da seguinte forma:
O avivalista geralmente, mas não necessariamente, trabalha com sermões temáticos, a mudança na tonalidade da voz é muito comum, um período do sermão é dedicado a manifestações de dons e carismas, há o uso de muitos gestos corporais e a utilização de chavões, clichês e se possível,  de exemplos que estimulem o sentido da visão.   Já a pregação de caráter social é menos mística, voltada principalmente para a razão e é mais oral.

1.5.A Pregação na Idade das Mídias -  A virada tanto do século como do milênio, trouxe profundas transformações na pregação do Evangelho. As Mídias de Massa e Digital teem exercido  este poder de transformação na Pregação do Evangelho, é bom frisar que cada uma destas mídias tem sua própria especificidade, e por isto mesmo possui seu próprio padrão de transmissão. Como a tendência é da ampliação na transmissão via digital, será comentado somente alguns aspectos referentes às tecnologias digitais.
Neste novo ambiente de comunicação, a pregação para ser efetivamente apropriada para o meio é,  e deverá  ser amparada por muita visualidade, falas curtas e diretas e muito conteúdo que se modifica a todo instante, a fim de que as pessoas fiquem conectadas o maior tempo possível,  além de se apelar para uma maior interatividade durante a pregação. Ainda, é bom frisar que com a inserção das inovações tecnológicas no  ambiente cúltico, a utilização de projetores de imagens, também vem modificar a metodologia da pregação como pode ser visto no exemplo dado pela igreja coreana.

2.      A igreja da Coréia (um exemplo a ser seguido?!) - Ao falar sobre igreja e suas ligações com as mídias digitais, não tem como deixar de fora, a igreja local que mais tem se colocado na vanguarda das inovações tecnológicas.  Na  igreja Yoido Full Gospel  em Seul, Coréia do Sul, a igreja do Pr.David Yonggi Cho, as pregações   são acompanhadas de cenas alusivas ao que está sendo  falado, assim são projetadas cenas de filmes, imagens em duas telas de plasma com dimensões de fazer inveja ao mais moderno dos cinemas; há  ainda dezenas de telas menores espalhadas pelos cinco pisos do templo gigantesco de Seul, tudo isto  acompanhado por uma trilha sonora e diante de uma enorme cruz fixada, de luz de neon, no centro do altar; os fiéis e os visitantes do templo teem acesso a fones de ouvidos com diversas opções de idiomas para acompanhar as pregações. Pelo jeito,  os coreanos  já se apropriaram de alguns ensinos psicológicos acerca dos estímulos provenientes das telas, que dizem que quanto mais forte e estimulante for a experiência, juntando som, imagem, e outras sensações mais envolvente ela será, e   melhor a sua retenção e compreensão. Para completar o grande envolvimento midiático do Tempo do Dr. Cho, existem  cerca de 200 câmeras, que geram imagens, em tempo real e por diferentes ângulos, para sites e canais de televisão. 

3.      A Pregação e as Novas Mídias (presenciais e a distância) -  A inserção de meios eletrônicos-digitais na  e para transmissão do Evangelho, já tem feito nascer, mesmo que de forma embrionária:

3.1.Uma pregação que prioriza o visual em detrimento do oral, por isto  o caráter de show das pregações deste 2º milênio;

3.2. Uma exigência de  conhecimento e  atenção  mais técnica na transmissão do Evangelho, pois a preocupação não será tanto com o auditório e sim com o meio (cheio de padrões e exigências) que leva o conteúdo àqueles que estão presentes no auditório, como para os que acessam via internet, e isto pode ser chamado de ´´preocupação midiática``;

3.3. Uma pregação que tende a expandir-se tanto no sentido do tempo cronológico  quanto na extensão geográfica, pois  já pode ser acessada após os cultos, comentada e divulgada pelas redes sociais;

3.4. Uma pregação, que provavelmente, pode tornar-se uma peça a mais no grande esquema da midiatização eclesiática, um produto  dentre os demais recursos oferecidos para os internautas, isto, devido as múltiplas oportunidades concedidas pelos dispositivos do  meio digital;  

3.5. A pregação midiatizada tornar-se-á cada vez mais cheia de ilustrações visuais, os sermões com ilustrações para utilização da imaginação será mais restrito a grupos ´´antigos``, pois as novas gerações perderão cada vez mais a capacidade de imaginar atraves do que se está sendo  apenas falado,  já que desde pequeninos, sempre terão imagens, enxendo o campo visual e os pensamentos deles.

Abraços
Elias
Fontes:

2 comentários:

  1. Prezado Elias, o desafio é aproveitar as novas mídias, sem esquecer o tema central da Palavra de Deus. É difícil, mas não impossível. Conheço pregadores que têem se saído muito bem no quesito. Seu questionamento, entretanto, é extremamente pertinente. Parabéns!

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  2. Caro Daladier, em primeiro lugar agradeço pelo vosso comentário, em segundo lugar desejo que possa aproveitar o máximo que puder daquilo que tenho postado, também sinta-se a vontade para postar suas críticas e sugestões.Por fim, minha posição quanto as mídias permanecerá até convencerem-me ao contrário, ´´crítica``, pois me baseio inicialmente na Verdade Bíblica de que o ser humano é pecador, e por isto mesmo tem o costume de estragar os meios que ele utiliza.Porém, tenho fé que ainda existem homens e mulheres que conhecendo os meios de comunicação em sua totalidade, saberão utiliza-los para a glória de Deus.
    Abraço

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