sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Pregação nas próximas gerações - O futuro das pregações frente a uma inserção, cada vez maior, das mídias digitais em reuniões cúlticas.


       Introdução
       O verdadeiro Cristianismo é a Fé na Pessoa de Jesus Cristo, como único Salvador e Senhor de nossas vidas e que tem como um dos seus pontos basilares a pregação (Kerigma).  Em Marcos 1:38-39, está escrito ´´Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue; porque para isso vim``; em Lucas 4:18-19 também é enfatizado o aspecto homilético do ministério de Jesus, ´´O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos e dar vista aos cegos; a por em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor``. Algo a se enfatizar quanto a pregação de Jesus é que sua mensagem não era algo meramente restrita ao discurso, a força de sua pregação era fortemente alicerçada por sua vida (Mt.7:29). Entretanto, sendo portador de uma mensagem simples, o Mestre utilizava-se  de uma complexa rede de recursos comunicacionais, tais como, a linguagem cheia de imaginação, raciocínio analógico, figuras de linguagem, contrastes, as possibilidades acústicas e etc.
Jesus, em todos os sentidos deixou exemplos, até mesmo na comunicação. Porém, as mudanças históricas e culturais pelo qual a igreja passou, fizeram com que a mesma começasse  a trabalhar de forma diferente em muitas áreas de sua atuação,   causando tambem alterações no âmbito técnico da homilia. E é isto que será colocado a seguir,  partindo da Idade Média.

1.      Uma síntese histórica da Pregação
1.1.A Pregação na Idade Média -  Após o período apostólico, a Igreja continuou  tendo em suas fileiras pessoas muito capacitadas na pregação do Evangelho.  No período chamado dos ´´Pais da igreja``,  muitos expoentes da pregação deram ao mundo palavras ungidas e profundas que, ainda hoje, podem ser pesquisadas pelos interessados; um destes foi  João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla(349-407), conhecido como ´´Boca de Ouro``, que com uma oratória impactante e um conteúdo profundo, impressionava a todos os que o ouviam. Passado estas duas épocas históricas aureas da pregação cristã,  o perído denominado  Idade Média, viu uma estagnação neste ministério tão importante da igreja, em algumas regiões, houve até mesmo um retrocesso nesta área.  Portanto, a  pregação clerical na Idade Média foi marcada pela falta de originalidade e  imprimiu nesta prática da liturgia cristã um costume de  repetir os sermões dos grandes padres do período anterior. A homilia — como discurso familiar, simples e íntimo — foi sendo substituida e  nos cultos  foi se  dando mais espaço para o aspecto sonelizado e  da espetacularização, o qual acabou  dominando toda a liturgia da igreja romana durante toda Idade Média. Foi neste período, que surgiram duas escolas de pregação medievais, a escola escolástica e a mística ou mendicante, a primeira  voltada para os templos e para as nascentes universidades e a outra,  para o ar livre. Assim sendo, segundo Ramos ´´na Idade Média, portanto, enquanto a homilética era enriquecida pela prática mística das ordens mendicantes que  pregavam nas cidades e nos  campos, era empobrecida pelos abstratos discursos proferidos dos suntuosos  púlpitos das catedrais. Enquanto, em alguns setores da hierarquia eclesiástica,  a prédica conquistava as luzes da razão, o fervor místico dos pregadores mendicantes se encarregava de manter a porta dos fundos abertas para a passagem livre da superstição e da experiência religiosa emocional (por vias afetivas) e sensacional (por vias sensoriais).``

1.2.A Pregação no Período da Reforma Protestante -  Se a Idade Média, não aperfeiçou a arte homilética, apenas teve  uns momentos de lampejo aqui e ali, com nomes como  Domingos, Francisco de Assis, Tomás de Aquino , Pedro Valdo e outros.  No período chamado de Reforma Protestante houve um retorno e até mesmo um avanço na pregação do Evangelho.
Neste período, aconteceu uma  “troca de meios``,  pois “enquanto  na Igreja medieval o sacramento, a celebração simbólica, eram entendidos como meio de apropriação da salvação”, com a  Reforma é a Palavra falada da prédica evangélica que é colocada no centro e assume essa função  de meio, portador, proclamador da salvação (Rm.10:07).
A identidade homilética medieval foi marcada principalmente pelo aspecto visual, com seus suntuosos e elevados púlpitos, já a homilética reformada foi caracterizada pelo traje, com a substituição da indumentária sacerdotal pelos trajes acadêmicos. Segundo Ramos,´´ Ulrico Zwinglio teria sido o primeiro a introduzir o uso da toga acadêmica chamada schaube, em Zürich, durante o outono de 1523 e Martinho Lutero teria adotado o shaube no dia 9 de outubro de 1524, substituindo definitivamente seu hábito e capelo monacais.``

A Pregação Reformada, foi marcada pelos seguintes aspectos:
(1) A primazia da palavra oral;
(2)  A Palavra de Deus deve consolar e libertar a consciência moral do ser humano,
por meio da prédica evangélica;
(3) Somente a Cristo se deve pregar (solus Christus praedicandus);
(4) A Pregação da Palavra se destina à pessoa de forma individual;
(5) Pregação acentuadamente auditiva, lingüística e menos visual.

1.3.A Pregação nos Tempos das Missões Modernas -  Quando as diferenças entre igreja Protestante e Católica estão bem delimitadas, surge um período de fervor missionário dentro da igreja, principalmente na Protestante, impulsionada pelas pregações de cunho  evangelístico e de avivamento dos irmãos morávios, metodistas e avivalistas norte americanos.  A mensagem levada aos campos estrangeiros apresentava uma  forma que em aspectos gerais, é  mais próxima da pregação emocional das ordens mendicantes da Idade Média e voltada para aspectos sociais, lembrando um pouco a mensagem dos profetas vetero-testamentários. O discurso continua  sendo mais oral e menos visual.

1.4.A Pregação no Século XX - Durante o século XX, alguns aspectos podem ser mencionados sobre o conteúdo e a forma da pregação, por exemplo:
O avivalista ou carismático e o social.
A mensagem avivalista é notoriamente emotiva e sensorial, envolvida por um ambiente altamente espiritualizado.  Já o social é mais racional e pragmático.
Com isto, a forma homilética destes dois movimentos podem ser caracterizados da seguinte forma:
O avivalista geralmente, mas não necessariamente, trabalha com sermões temáticos, a mudança na tonalidade da voz é muito comum, um período do sermão é dedicado a manifestações de dons e carismas, há o uso de muitos gestos corporais e a utilização de chavões, clichês e se possível,  de exemplos que estimulem o sentido da visão.   Já a pregação de caráter social é menos mística, voltada principalmente para a razão e é mais oral.

1.5.A Pregação na Idade das Mídias -  A virada tanto do século como do milênio, trouxe profundas transformações na pregação do Evangelho. As Mídias de Massa e Digital teem exercido  este poder de transformação na Pregação do Evangelho, é bom frisar que cada uma destas mídias tem sua própria especificidade, e por isto mesmo possui seu próprio padrão de transmissão. Como a tendência é da ampliação na transmissão via digital, será comentado somente alguns aspectos referentes às tecnologias digitais.
Neste novo ambiente de comunicação, a pregação para ser efetivamente apropriada para o meio é,  e deverá  ser amparada por muita visualidade, falas curtas e diretas e muito conteúdo que se modifica a todo instante, a fim de que as pessoas fiquem conectadas o maior tempo possível,  além de se apelar para uma maior interatividade durante a pregação. Ainda, é bom frisar que com a inserção das inovações tecnológicas no  ambiente cúltico, a utilização de projetores de imagens, também vem modificar a metodologia da pregação como pode ser visto no exemplo dado pela igreja coreana.

2.      A igreja da Coréia (um exemplo a ser seguido?!) - Ao falar sobre igreja e suas ligações com as mídias digitais, não tem como deixar de fora, a igreja local que mais tem se colocado na vanguarda das inovações tecnológicas.  Na  igreja Yoido Full Gospel  em Seul, Coréia do Sul, a igreja do Pr.David Yonggi Cho, as pregações   são acompanhadas de cenas alusivas ao que está sendo  falado, assim são projetadas cenas de filmes, imagens em duas telas de plasma com dimensões de fazer inveja ao mais moderno dos cinemas; há  ainda dezenas de telas menores espalhadas pelos cinco pisos do templo gigantesco de Seul, tudo isto  acompanhado por uma trilha sonora e diante de uma enorme cruz fixada, de luz de neon, no centro do altar; os fiéis e os visitantes do templo teem acesso a fones de ouvidos com diversas opções de idiomas para acompanhar as pregações. Pelo jeito,  os coreanos  já se apropriaram de alguns ensinos psicológicos acerca dos estímulos provenientes das telas, que dizem que quanto mais forte e estimulante for a experiência, juntando som, imagem, e outras sensações mais envolvente ela será, e   melhor a sua retenção e compreensão. Para completar o grande envolvimento midiático do Tempo do Dr. Cho, existem  cerca de 200 câmeras, que geram imagens, em tempo real e por diferentes ângulos, para sites e canais de televisão. 

3.      A Pregação e as Novas Mídias (presenciais e a distância) -  A inserção de meios eletrônicos-digitais na  e para transmissão do Evangelho, já tem feito nascer, mesmo que de forma embrionária:

3.1.Uma pregação que prioriza o visual em detrimento do oral, por isto  o caráter de show das pregações deste 2º milênio;

3.2. Uma exigência de  conhecimento e  atenção  mais técnica na transmissão do Evangelho, pois a preocupação não será tanto com o auditório e sim com o meio (cheio de padrões e exigências) que leva o conteúdo àqueles que estão presentes no auditório, como para os que acessam via internet, e isto pode ser chamado de ´´preocupação midiática``;

3.3. Uma pregação que tende a expandir-se tanto no sentido do tempo cronológico  quanto na extensão geográfica, pois  já pode ser acessada após os cultos, comentada e divulgada pelas redes sociais;

3.4. Uma pregação, que provavelmente, pode tornar-se uma peça a mais no grande esquema da midiatização eclesiática, um produto  dentre os demais recursos oferecidos para os internautas, isto, devido as múltiplas oportunidades concedidas pelos dispositivos do  meio digital;  

3.5. A pregação midiatizada tornar-se-á cada vez mais cheia de ilustrações visuais, os sermões com ilustrações para utilização da imaginação será mais restrito a grupos ´´antigos``, pois as novas gerações perderão cada vez mais a capacidade de imaginar atraves do que se está sendo  apenas falado,  já que desde pequeninos, sempre terão imagens, enxendo o campo visual e os pensamentos deles.

Abraços
Elias
Fontes:

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A Arte da Retórica para o Auditório e para o Público multi-sensórial

Caracterização de Retórica:
Partindo do pensamento aristotélico, foi a argumentação persuasiva como  processo ideal em resolver ou superar divergências na polis grega, por isto é caracterizada como o ´´saber encontrar caminhos possíveis para persuadir (convencer)  as pessoas sobre qualquer assunto dado`` . Segundo Chaui , que entende a retórica como uma arte,  ´´ o objeto fundamental da retórica é o mover, comover, promover paixões, usá-las para fins da persuasão, suscitando no ouvinte medo, cólera, ódio, amor, piedade, tristeza, alegria, generosidade, inveja, etc.``

Áreas em que a persuasão retórica é utilizada
Atualmente, as pessoas usam a persuasão retórica em todos os âmbitos da vida humana, não só no político, mas no social (educação, trabalho,etc.), econômico, cultural, científico, religioso e etc.

Esquemas retóricos

1.       O esquema da retórica Aristotélica













O esquema da retórica das Mídias de Massa e Digital














A cor dos esquemas foi proposital

A retórica Aristotélica, baseia-se no esquema triangular:
1º - No caráter do orador, que deve buscar a construção de uma opinião favorável dos seus ouvintes a seu respeito;
2º - Nas paixões dos ouvintes, o qual devem crescer para servir de base para a persuasão;
3º - Na mensagem, ou melhor, na força do argumento empregado que pode ser, ´´pelo exemplo e discurso servido de algumas poucas premissas e pela conclusão, sem que o ouvinte precise pensar sobre o que o orador não apresentou``.

A retórica baseada nas Mídias opera no esquema de um quadrado
A retórica baseada nas Mídias acrescenta mais um elemento, os meios.  Segundo Postman, quando um dado animal é inserido em outro ambiente que não o seu de origem, ele não chega simplesmente para ser acrescentado ao novo ecossistema,  vem para alterar completamente o mesmo. Isto, é apresentado como uma ilustração da inserção dos meios de comunicação em áreas antes não influenciadas por eles, ou seja,  as mídias não são meros elementos adicionados aos ambientes. Mas, são instrumentos da comunicação que intervém e refazem as relações entre os outros elementos da retórica. Tudo se altera substancialmente devido as mídias, tanto o orador quanto a mensagem, e até o público multi-sensório.  Por que público multi-sensório? Porque o tal para apropriar-se da mensagem daqui para frente, e este é um caminho sem retorno, usará não apenas a visão e a audição, mas o olfato e outros sentidos para apropriarem-se das mensagens veiculadas pelas mídias híbridas dos dias atuais, pois os aparelhos de televisão não são e não mais serão instrumentos rígidos de comunicação; atualmente,a maior parte dos fabricados  vem com acesso a internet e softwares que ampliam a interação simultânea entre telespectadores e emissoras, e muito em breve elas virão com programas sofisticados que permitem uma maior paticipação sensória dos mesmos com aquilo que está sendo transmitido pela tela.

As audiências da Arte da retórica
Neste artigo, uso o termo auditório referindo as seguintes caracerísticas:
·         Auditório compartilha com o orador o mesmo espaço físico;
·         Auditório compartilha o mesmo tempo cronológico com o orador;
·         Auditório é composto de pessoas físicas, reais;
·         Auditório significa que a espaço físico e tempo cronológico possuem simultaneidade e unidade;
·         Auditório possui diversidade de pessoas quanto a sexo, idade,condição social;
·         Auditório possui diversidade, quanto ao espaço onde está localizado (sala, praça, teatro, igreja, ao as livre,etc.), quanto ao tempo cronológico em que ele pode ser formado (período matutino, vespertino ou noturno);
·         Auditório tem uma finalidade, carrega em si o aspecto teleológico,  sempre terá como finalidade ao reunir-se, o observar e ou decidir sobre algo.

A retórica utilizada no auditório é a presencial, que permite:
1.       Um desenvolvimento de técnicas de oratória persuasiva por parte do orador, dependendo do tipo de pessoa presente no auditório;
2.       Uma disposíção anímica (Lt.animus=alma) das pessoas para um mesmo tipo de pensamento, pois pelo seu caráter gregário o ser humano procura aceitar o que lhe  permite uma maior integração social;
3.       Um julgamento das intenções e caráter do orador a partir daquilo que é enunciado e visto pelo auditório;
4.       Um  destaque ao discurso e não para a  imagem.

Tendências da retórica utilizada para o público multi-sensório  através da retórica midiatizada daqui para frente :
1.       Um distanciamento tanto físico como cronológico entre o orador e as pessoas, a distância sucederá a proximidade;
2.       Um acréscimo das técnicas comunicacionais para persuadir as pessoas, principalmente aquelas que utilizam recursos como o Power Point, repleto de imagens, filmes, músicas e tc.;
3.       Uma maior exploração da imagem do orador, trabalhada principalmente pela indústria midiática e agentes publicitários;
4.       Uma ampliação da mensagem através dos meios de comunicação de massa e das redes sociais, através dos comentários e respostas;
5.       Uma maior utilização de efeitos sensoriais na transmissão da mensagem;
6.       Uma maior liberdade de reflexão para o público, o que se torna uma espada de dois gumes, pois possibilitará ao mensageiro e ao público maior poder de crítica;
7.       Quanto ao conteúdo, haverá uma maior chance do público não ouvir o que contem a  mensagem, mas sim dar atenção ao que se vê, pois o que os olhos enxergam na tela, poderá ser diferente daquilo que é falado pelo orador, como por exemplo, caso um orador afirmar algo e ao mesmo tempo for mostrado na tela alguém (com a cabeça) meneando contrariamente, negando, possivelmente as pessoas prestarão mais atenção à negação do que a afirmação;
8.       Quanto a relação público x mensageiro, a decisão e o julgamento de quem ouve acabará por incidir mais sobre quem, do que sobre aquilo que se fala. Preste atenção ao que estamos vendo nas mídias, em relação aos tele evangelistas;
9.       A mensagem nas novas mídias carregará consigo múltiplos autores, pelo que  será muito difícil sua credibilidade;
10.   O discurso oral e persuasivo será substituido pelo discurso escrito da informação via sites, blogs e outras redes sociais e pelos vídeos. Por ser uma mídia muito complexa, o mensageiro tomará muito mais cuidado ao pronunciar sua mensagem e a maneira mais segura para isso, será tendo um texto em suas mãos e editando aquilo que produz para ser transmitido via online.
11.   O público midiático já é desatento, e tornar-se-á cada vez menos ao conteúdo da mensagem. Na mensagem midiática são muitos os  fatores  que estão presentes e apelam (ao mesmo tempo) na transmissão por telas, sem cessar à atenção, provocando enorme dispersão.

Implicações
Primeiro com a proliferação da imprensa, segundo dos meios de comunicação em massa e atualmente pelas mídias digitais, quem tiver maior acesso, usar, dominar e continuamente inovar nos meios de comunicação digitais disporá de uma importante e gigantesca vantagem para influenciar as pessoas. Assim sendo, o acesso aos meios de comunicação nos dias atuais e daqui para frente será indispensável a qualquer mensageiro que queira realmente persuadir todos aqueles que terão acesso às suas mensagens, via telas. Entretanto, os meios digitais são, gostando ou não, condição de um exercício retórico verdadeiramente influenciador . Até mesmo hoje em dia, o chamado auditório presencial, o controle  do meios de ampliação sonora, como os microfones é decisivo. Atualmente, se por exemplo for desligado o microfone de um mensageiro, ele ficará sem condições de prosseguir o discurso. E isto é algo muito simples. Mas o acesso aos meios de comunicação tanto de massa como  digitais, fará com que o mensageiro tenha não somente acesso a um público maior, mas também terá a possibilidade de influencia-los de uma maneira muito mais abrangente.

Portanto, sem os meios o orador não se fará ouvir; para isso ele deverá buscar ter acesso  aos mesmos, sendo assim, buscar  novos meios de comunicação é uma das suas tarefas principais. Mas isto envolverá grandes riscos. Primeiro, porque qualquer meio, pela sua própria natureza, irá enquadrar o orador,  não oferecendo autonomia para ser ele mesmo, pois o padrão exigido e determinado pela tela faz com que aquele que é levado pelas ondas de sua imagem adapte-se  às necessidades da transmissão. Segundo, as mídias de tela  impõem uma intervenção nas  estratégias do mensageiro, que terá uma luta com o ambiente ´´poluído`` que cerca as mídias digitais (e-mails, conversas onlines, mensagens que chegam sempre via redes sociais, etc.). Terceiro, a utilização das mídias pelo mensageiro exigirá sempre a  necessidade do mesmo avaliar as condições e os custos em que essa utilização é realizada.

Assim sendo, é importante encerrar afirmando que longe dos meios, tanto de massa como digitais serem um elemento secundário na mensagem retórica, eles são o elemento determinante. Para Aristóteles, o auditório era o elemento chave, hoje são os meios que formam os públicos.

Abraços


·         Chaui, Marilena. Introdução a História da Filosofia, Ed. Brasiliense,São Paulo,1994




segunda-feira, 2 de abril de 2012

OS INTELECTUAIS E AS NOVAS MÍDIAS

A História deixa bem claro, que com o passar dos séculos, as pessoas acabam se adequando às condições impostas pelo ambiente, época, cultura no qual estão inseridas .  Essa adequação é uma capacidade que todo ser humano possui, sendo inconsciente para a grande maioria das pessoas e consciente apenas para poucos. Aqueles que não percebem, conscientemente, a sua capacidade em adequar-se, mas também não aceitam negociar seus valores, são os que teem mais dificuldades em lidar ou  mesmo trabalhar com as transformações que, com certeza, chegarão até eles.

Caraterização do que são os intelectuais
Em todas as eras, na humanidade sempre houve uma classe de pessoas que teve mais facilidades em fazer uma leitura da época na qual vivia e consequentemente, podiam produzir um rico acervo de como se podiam pensar, sentir, construir, enfim viver tal momento histórico, sempre trabalhando segundo uma ideologia. Tais pessoas que organizam, produzem estes acervos são os intelectuais. Portanto, o  intelectual ´´é aquela pessoa que consegue ver e discernir o momento em que vive e além disto pode produzir um material teórico e prático ideológico  que permite aos demais organizarem e viverem este determinado período histórico, tanto para o bem como para o mal destes.``

Quem são os intelectuais?
No Mundo Antigo, os primeiros intelectuais foram os sacerdotes, inclusive a escrita foi dominada  por eles.  A  partir, principalmente, do 5º século a.C., na Grécia, os intelectuais  foram os filósofos; na Europa Medieval, os religiosos voltaram a ocupar o papel de intelectuais do momento; com as Revoluções Burguesas na Europa, os filósofos humanistas entraram em cena para dividir com os religiosos católicos e protestantes o papel de intelectuais da hora.  Com a chegada do século XIX e  a ampliação das ciências, muitas áreas, tais como: a Medicina, a Física, o Direito, a Psicologia, a Engenharia, a Administração, começaram a produzir seus intelectuais,  que outrora vinham  da Filosofia e da Teologia.  Contudo, são das Ciências Humanas  que  teem  saído a maior porcentagem de intelectuais nos dias atuais, são eles:  os Sociólogos, Antropólogos, Historiadores, Geógrafos, Filósofos e etc.

Antes da revolução tecnológica, como os intelectuais exerciam sua influência  nas mídias no século XX?
Sem retornar aos primordios da humanidade e concentrando-se na Idade Moderna, é possível ver que os intelectuais nesse período, transmitiam suas informações teóricas e conhecimentos práticos através de panfletos e livros impressos. Isto fez, com que o nome deles se tornassem populares naquele momento, guardando as devidas proporções daquilo que hoje é entendido por popularidade. Primeiro, utilizando material impresso, esses intelectuais não atraiam tanta  atenção para eles próprios, pois a impressão daqueles dias levavam o nome e não a imagem deles.   Segundo, ao utilizar um material impresso, o mesmo permitia ao leitor refletir sobre o que estava lendo, dando assim, a oportunidade de fazer uma leitura mais aprofundada, intimista. Terceiro, seu conteúdo precisava ser mais racional.  Quarto, a mídia impressa (livros) era hegemônica naquele período e uma das características desta tecnologia, é que ela não possibbilitava (devido suas limitações) uma divulgação acelerada e ampla de diversos conteúdos, o que permitia para  que idéias e comportamentos pemanecessem inalterados por muitos anos e décadas. Quinto, a mídia impressa utilizada pelos intelectuais, admiitia um desenvolvimento individual intelectual riquissímo, pois a literatura possibilitava que cada um  a partir do que recebia desenvolvesse suas próprias idéias.  Sexto, seu propósito era levar um conteúdo a nível horizontal.

O que as novas mídias, do século XX, exigiram dos intelectuais para que sua mensagem tivesse poder de influência?
Com a chegada do século XX e o desenvolvimento de novas tecnologias, tendo como principal a televisão, porém não a única a ser desenvolvida neste século.  Como meio de comunicação que usa tela, ela transformou, por completo, a maneira como  aqueles usariam  para comunicar seus pensamentos. O intelectual que conseguiu se adequar a esta momento histórico e a esta  ferramenta,  precisou primeiro, usar pessoas carismáticas para divulgar suas idéias; segundo, teve que ver suas idéias sofisticadas serem  adaptadas ao senso comum;  terceiro, viu suas idéias serem diluídas frente à enxurrada de outras,  que chegavam juntamente com as dele;  quarto, a sua mensagem precisou ser mais direcionada às emoções e não a razão; quinto, suas idéias, devido ao meio acabaram por homogeinizar o pensamento dos telespectadores;  sexto, o intelectual, deste período, para exercer algum tipo de influência precisa sujeitar-se aos que dominam os meios, neste caso a Televisão.

Observando tal contexto histórico, é possível dizer que o intelectual continuou atrás dos bastidores como na Idade Moderna, porém  agora seu nome dificilmente é mencionado, quem precisa aparecer é o´´artista`` que popularizará sua idéia, o qual por sua vez a adaptará, e a deixará fragilizada cada vez mais, pois o intelectual é figura, geralmente, associada àqueles que são contra a televisão. Contudo, para  continuar  mantendo seu controle sobre a grande massa, o intelectual que se utiliza da televisão, não terá preocupação em ver suas idéias diluídas  em meio ao mar de outras idéias,   de psicologizá-las  afim de  torná-las meros sentimentalismos condicionadores e homogeneizadores das pessoas e nem de ser manipulado pelos donos do poder, tornando assim sua influência intelectual uma força de persuasão que vem de cima para baixo.

Então, não existirá nenhum intelectual que saiba utilizar bem a televisão? Com certeza, sim. Porém, estes não desejam manipular , controlar e igualar o pensamento da grande massa, e  não querem utilizar dos padrões necessários para alcançar os seus objetivos.

Como os intelectuais dos dias atuais (século XXI) mantêm sua influência sobre as massas?
Com a chegada da Internet, mais uma repaginação foi necessária para que o intelectual pudesse continuar a exercer seu papel de dirigente intelectual na sociedade. Agora, não basta  ser um excelente observador  da realidade e nem um criativo desenvolvedor de idéias, ele precisa aprender a usar os padrões das midias digitais, além de reaprender a escrever para ambientes virtuais, a se apresentar e a falar nos vídeos e a comunicar-se nas redes sociais, enfim a ser um multi-mídia. Atualmente,  um intelectual necessita ser mais do que um artista, ele precisa de uma equipe de trabalho que possa divulgar suas idéias, uma agilidade  ainda maior para elaborar sua leitura da realidade e como adaptar-se a mesma, devido a rapidez da sociedade da informação.  E, por fim ele somente mantêm sua influência, através da Internet, quando consegue utilizar todas as ferramentas, simultaneamente e na linguagem padrão relacionada as mesmas     (texto, imagens e som).  A internet é a ferramenta que mais fortaleceu o trabalho dos intelectuais, principalmente  quando a utilizam, amparados por uma rede de colaboradores, e ao mesmo tempo a que mais enfraqueceu, pois no universo gigantesco da comunicação proporcionado pela internet, quem não atualizar-se em informação e conhecimento e também não atualizar os conteúdos na rede digital todos os dias, não terá como divulgar e muito menos influenciar alguém.

Conclusão
Geralmente, os intelectuais são associados à  academia, ou seja,  aqueles que estão nas universidades. Mas estes, ainda estão muito isolados da grande massa, sua capacidade de formação de opinião continua  muito restrita aos acadêmicos.  Com a internet, alguns tem se arriscado  a participarem de eventos divulgados pela Rede mundial de computadores, porém estes eventos são basicamente  acessados por  poucas pessoas, que até já conhecem os sites, onde divulgam um pensamento mais sofisticado.  Por exemplo, proporcionalmente, são poucas as pessoas que acessam sites, como http://www.ted.com/talks e http://www.cpflcultura.com.br/cafe-filosofico/, entre alguns outros de conteúdo realmente reflexivo. Portanto, os intelectuais mencionados neste texto, são aqueles que estão relacionados ao controle da sociedade civil (sistema escolar, partidos políticos, sindicatos, igrejas, organizações de ajuda humanitária e ecológicas, orgãos de comunicação e etc.), e que buscam adequar-se aos meios de comunicação inerentes à época em que estão, os quais trabalham com o fim de dirigir as pessoas para determinada ideologia, tanto de caráter secular como religiosa.

Abraço